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A Sweet Pill é formada por ayna Youssef (voz principal), Jayce Williams (guitarra), Sean McCall (guitarra e vozes de apoio), Chris Kearney (bateria) e Ryan Cullen (baixo e vozes de apoio)

Publicado porFernando Vinícius

em 01/11/2023

Potência, profissionalismo, entrega e carisma — essas são as palavras mais adequadas para descrever a jovem banda Sweet Pill, que flutua com personalidade e confiança pelo midwest emo, post-hardcore e pop-punk à estética dos anos 2000, tendo por principal base bandas como Circa Survive, Paramore e Tigers Jaw.

O quinteto estadunidense — composto por Zayna Youssef (voz principal), Jayce Williams (guitarra), Sean McCall (guitarra e vozes de apoio), Chris Kearney (bateria) e Ryan Cullen (baixo e vozes de apoio) — se formou em 2019, na Rowan University, em Nova Jersey, integrando depois a efervescente cena musical da Filadélfia, a partir de aulas de música clássica, shows em porões e da colaboração proporcionada pelo 4333 Collective, grupo organizador de eventos musicais fundado pelo guitarrista Jayce.

Após resistir ao período de pandemia, a Sweet Pill vem atraindo públicos cada vez maiores, criando uma base dedicada de fãs e conquistando a crítica com suas canções e performances poderosas que, combinando influências estabelecidas do emo ao pop, projetam um frescor intenso e autêntico. A banda esboça, em suas composições, a contraditória vida pós-faculdade de jovens-adultos que oscilam entre a angústia e a euforia.

O universo sonoro do grupo é construído, antes de mais nada, pela voz marcante e versátil de sua frontwoman, Zayna, que afirma ter como principal referência a artista Hayley Williams. Entre falsetes delicados e drives violentos, Youssef costura um caminho magnético, de letras reflexivas e confessionais, sobre o math rock inquieto das guitarras de Jayce e Sean.

Chris se soma à receita com sua habilidade absurda, capaz de dar à bateria um instigante protagonismo, com viradas, conduções e malabarismos sempre na medida certa para compor os diferentes climas das músicas. Para completar o grupo, está Ryan, baixista preciso e seguro que equilibra perfeitamente seu instrumento em diálogo com os outros integrantes.

“Sweet Pill - a sensação da Filadélfia”

A frase está no flyer de um dos shows recentes da banda, realizado em Lincoln, Nebraska: “Sweet Pill - the Philadelphia sensation”. O subtítulo, curto e certeiro, traduz o impacto que a banda está causando e justifica suas conquistas, como ter acompanhado a icônica banda La Dispute em turnê e, mais recentemente, ser capa da playlist emo right now, que reúne expoentes do emo contemporâneo no Spotify.

Outro motivo que direcionou novamente os holofotes ao grupo foi o lançamento de seu novo single, Starchild, que veio ao mundo em 27 de setembro deste ano e, um mês depois, já acumula mais de 180.000 plays apenas no Spotify.

A faixa marca também a entrada da banda para o expressivo selo independente Hopeless Records, que viabiliza o trabalho de outros artistas extremamente conceituados das cenas pop-punk e emo, como Neck Deep, Taking Back Sunday, Sum 41 e The Used. Confira o single:

No entanto, o trabalho que realmente iniciou a expansão dos horizontes da banda foi seu primeiro disco cheio. Em 2022, Where The Heart Is, com produção assinada por Matt Weber, deixou clara, em suas 10 excelentes faixas, a maturidade, personalidade e verve do grupo, mostrando que seus membros estavam dispostos a dar tudo de si para viver da música.

Com arranjos complexos que parecem sempre ter algo novo a revelar, vocais impecáveis, letras bem construídas e riffs marcantes, o álbum foi — e é — a prova de um novo patamar de desenvolvimento da Sweet Pill, que, em singles e EPs anteriores, parecia ainda estar tateando as possibilidades de seu microcosmo criativo, enquanto passava também por mudanças de integrantes até chegar à sua preciosa formação atual.

A chave de Where The Heart Is parece estar em sua faixa de abertura, que leva o mesmo nome do disco (em português: “onde o coração está”). Com uma letra circular, a canção descreve a atmosfera de uma rotina monótona, insatisfatória e triste, que consiste em ir para o trabalho e voltar para casa. A voz sentida de Zayna impõe seu lugar em meio a um instrumental ordenadamente caótico para cantar sobre os planos que acabam perdidos no turbilhão da rotina, sobre a vida que poderia estar sendo vivida, mas não está.

O disco então segue, com incrível consistência de qualidade e versatilidade, sem se assentar em lugares-comuns do midwest emo ou do hardcore. E o cuidado percebido na elaboração da obra significou, na ainda inicial história discográfica da banda, um claro movimento para chamar a atenção, para mostrar ao mundo que a Sweet Pill não é mais um passatempo de amigos de faculdade.

Não à toa, Jayce deu a seguinte declaração em entrevista de 2021 ao veículo NJ INDY: “Odeio quando chamam a música de hobby. Eu coloco tudo o que tenho nisso.”. Na mesma entrevista, o músico complementa: “Agora somos um grupo de pessoas que tem um objetivo em mente”.

Durante essa fase, a postura da banda rendeu parceria com sua primeira gravadora independente depois do Collective 4333, a Topshelf Records, que viabilizou ótimos clipes para os singles do álbum: as músicas Blood, High Hopes e Diamond Eyes. Assim se intensificava a ascensão de uma das bandas mais interessantes e originais da cena emo-punk-hardcore nos últimos anos.

Explorando gêneros que poderiam facilmente levá-la a uma caricatura repetitiva, Sweet Pill não deixa dúvidas a respeito de sua capacidade para, usando estruturas consagradas, projetar uma perspectiva singular e até certo ponto nova, em um universo estético-sonoro profundamente sedutor e bem estruturado.

A prova máxima da capacidade do grupo são suas insanas apresentações ao vivo. A banda é capaz de criar um clima enérgico e catártico, com performances que até mesmo superam as gravações de estúdio em complexidade e variedade de detalhes instrumentais.

Zayna dá um show à parte, com sua espontaneidade, sorriso largo e sua imensa extensão vocal. A cantora traz para o ao vivo a beleza de, em muitos momentos, testar seus limites, com drives e agudos violentos, mantendo-se extraordinariamente afinada a quase todo momento.

Sean é outro que, nos shows, exibe habilidade extrema em suas linhas vocais e na combinação delas com os arranjos frenéticos da banda. Chris, Ryan e Jayce desfilam, da mesma maneira, virtuosismo e coesão para gerar uma atmosfera visceral que transforma casas de show em verdadeiros caldeirões de suor e som, com rodas de bate-cabeças, stage dive e plateias inteiras cantando as faixas com o coração na boca. O coração que a Sweet Pill entrega ao seu público é, assim, retribuído pelo público.

Um registro especial da comemoração de um ano do primeiro LP da banda, disponibilizado pelo canal ROWTONE, prova isso. Em sua casa, na Filadélfia, a banda confirma, com toda sua potência e expressividade, que o título Where The Heart Is não foi escolhido ao acaso; a banda demonstra, com sua força, que a música é, de fato, onde o coração está.

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