Lindie

Logo Lindie
Kathleen Hanna em show da Bikini Kill, em São Paulo / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Publicado porMariana Luiza

em 25/03/2024

Foi demorado o tempo para encontrar as palavras certas que pudessem retratar a experiência vivida no show da Bikini Kill, em São Paulo. "Catarse coletiva" ainda parece uma descrição um tanto quanto limitada para aquela quinta-feira, dia 14 de março.

Após uma estreia explosiva no Brasil, no dia 5 de março, as norte-americanas Kathleen Hanna, Kathi Wilcox e Tobi Vail conduziram sua turnê em direção ao Chile, Argentina e Peru. Com todos os ingressos para o primeiro show vendidos em questão de minutos, a produção não viu outra opção a não ser abrir uma nova data para acomodar todos os que não conseguiram garantir um lugar de primeira. E foi naquela noite quente do dia 14, no último show da turnê, que os presentes viram um pedaço da história sendo feita. 

A abertura, realizada por dois sets de DJs e pelas bandas brasileiras Weedra, Punho de Mahin e As Mercenárias com participação de Paula Rebellato, conseguiu aquecer ainda mais um público que já se mostrava fervoroso. Quase no horário da atração principal, um burburinho pouco a pouco se transformava em gritos que clamavam pela entrada da banda de punk rock. Dentre os que gritavam, percebiam-se pessoas de todas as faixas etárias, desde quarentões (os jovens da época de glória do movimento riot grrrl), até menores de idade acompanhados pelos pais. 

Esbanjando simpatia, as integrantes da Bikini Kill finalmente subiram ao palco. Acenando para os fãs, brindaram o início da apresentação com dois de seus maiores sucessos: Double Dare Ya e Carnival.


Kathleen Hanna se divertiu ao interagir com o público / Foto: Mariana Luiza/LindieKathleen Hanna se divertiu ao interagir com o público / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Lideradas pela vocalista principal, Kathleen Hanna, que entre as músicas arranjava espaço para agradecer ao público e até mesmo saudar os muitos fotógrafos que lá estavam, a banda parecia não querer oferecer muito tempo para que os presentes recuperassem o fôlego entre um hit e outro.
New Radio, a terceira música do setlist escolhido a dedo, foi interrompida a pedidos de Hanna, que gostaria de recomeçá-la do jeito certo por ser “uma de suas músicas preferidas”. E como se isso já não fosse o suficiente para demonstrar o cuidado que a banda tinha com seu público, as integrantes receberam, por meio da equipe, presentes e zines arremessados ao palco pelos fãs.

Por volta da sexta canção apresentada pelo grupo, um movimento muito interessante foi realizado. Como em um time de vôlei, onde os atletas exercem uma rotação pela quadra, mudando de posição a cada novo saque, cada uma das artistas assumiu uma nova posição no palco. A baterista Tobi Vail se aproximou do público ao ocupar o microfone para a canção I Hate Danger, enquanto Kathleen Hanna adquiriu o posto de baixista e Kathi Wilcox de baterista. Durante o show esse movimento se repetiu outras vezes com a guitarrista de apoio da banda, Sara Landeau, na bateria.

A baterista Tobi Vail nos vocais, enquanto a guitarrista Sara Landeau assumia seu instrumento / Foto: Mariana Luiza/LindieA baterista Tobi Vail nos vocais, enquanto a guitarrista Sara Landeau assumia seu instrumento / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Conforme a apresentação seguia, era possível ouvir um coro que entoava uma das frases célebres da Bikini Kill nos anos 90: All girls to the front, em português “todas as garotas para a frente”. E a frase ditava o clima em quase toda a casa de show. Ainda que fosse a apresentação de uma banda de Riot Grrrl, a presença masculina no espaço não era pouca, no entanto, apesar de uma ou outra exceção,  a maioria parecia entender o recado.

Demi Rep, Reject All American, I Like Fucking e Rah! Rah! Replica, foram algumas entre as 24 canções que já haviam sido apresentadas quando o show começou a tomar um tom de despedida por parte da banda. O público, por sua vez, parecia incansável, gritava todas as músicas a plenos pulmões, respondia a qualquer interação vinda do palco e, facilmente, escutaria mais outras 24 músicas.

A baixista Kathi Wilcox, apesar de introspectiva, entregou tudo de si durante a apresentação / Foto: Mariana Luiza/LindieA baixista Kathi Wilcox, apesar de introspectiva, entregou tudo de si durante a apresentação / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Quando os primeiros acordes de Suck My Left One foram ouvidos, todos foram à loucura. Era quase impossível encontrar alguém parado ou desanimado. Pareciam querer viver ao limite todos os segundos da música, que, segundo a banda, era a última da noite. Contudo, aquela informação dificilmente pareceria verdade para qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sobre a banda, já que a música mais esperada ainda não havia sido tocada.

Nem ao menos a banda tinha acabado de sair do palco e o público já havia começado a clamar em uníssono pela canção Rebel Girl. E assim foi até o momento em que a música começou. Dessa vez, sim, sabia-se que o show terminava e todos os últimos segundos assistindo a banda não pareciam o suficiente para remediar o tempo de espera por essa apresentação em solo brasileiro. Mas o público deu uma resposta à altura do espetáculo exibido e, em um lindo coro, despediu-se da Bikini Kill.

Na saída, os fãs ainda anestesiados foram presenteados com a publicação independente “Distúrbio Feminino #12 - Bikini Kill no Brasil!” em formato de zine. Em um dos versos havia uma breve entrevista exclusiva realizada com Hanna e Vail e, no outro, um pôster. O trabalho veio como bom lembrete de que esse tipo de publicação, tão presente na história do movimento impulsionado pela banda no início dos anos 90, ainda tem seu espaço.

Bikini Kill realizou um show enérgico para ficar na memória / Foto: Mariana Luiza/LindieBikini Kill realizou um show enérgico para ficar na memória / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Enquanto a casa de show esvaziava por completo, ficou evidente que a maioria das pessoas havia chegado lá com muitos sentimentos entalados na garganta e uma necessidade pungente de colocá-los para fora durante o show. Sendo assim, o desfecho não poderia ser outro senão um espetáculo memorável, destinado a se tornar parte da história.


Compartilhe nas redes sociais:

Você também pode gostar

Logo Lindie

Abra sua mente para novos sons.

© 2020 Lindie. Todos os direitos reservados