Algum tempo antes de o show da banda Cefa começar, quando ainda poucos fãs se aproximavam do palco, foi possível ouvir a seguinte pergunta feita por um rapaz um tanto perdido: “Aqui vai ser a Cefa, né?”, ao que outro, fervorosamente, respondeu: “Sim, a melhor do festival!”. A curta e significativa resposta se mostraria plenamente justificada pelo que o grupo estava prestes a entregar de si no palco.
A Cefa, que completa 10 anos de existência, integrou o lineup do sábado, 19, segundo dia do Oxigênio Festival 2022. Em razão de atrasos na agenda do dia, o show, previsto para as 19h30, começou pouco depois das 20h, quando a expectativa e o público já eram grandes.
O grupo abriu sua apresentação com exuberância e vigor, tocando, em ordem, as três primeiras faixas de seu álbum CAØS, lançado em outubro de 2020: Impulso, Imensidão e Céu Nublado. Assim, a banda já deixou claro a que vinha, exibindo de imediato toda a verve de seus integrantes e de sua sonoridade que combina, entre outros estilos, metalcore, post-hardcore e rock alternativo.
O que se viu, como resposta, foi um público extremamente instigado. A forte e cativante presença de palco do vocalista principal e guitarrista-base Caio Weber, junto à brilhante performance de seus companheiros Gabriel Oliveira (guitarra principal e vozes de apoio) e Giovani Ivasco (baixo), encantou fãs e conquistou quem estava conhecendo a banda naquele momento. A Cefa envolveu a todos com sua energia e seus contundentes discursos sociopolíticos, amorosos e sobre saúde mental.
Antes de tocar a faixa Não Vão Silenciar, de forte cunho político-filosófico, Caio discursou contra o atual governo e, aliviado, comentou o resultado das últimas eleições presidenciais: "O ódio ainda não venceu…". E, para essa música, o vocalista também pediu que se abrisse uma roda de bate-cabeça. Assim, enquanto o público se agitava, a letra da canção soava visceralmente, com críticas claras a Jair Bolsonaro e seus eleitores: "Mas o que esperar de uma tripulação/ Que elege um capitão tão empenhado em nos afogar?"
Em seguida, o frontman da Cefa se disse muito animado com o Oxigênio Festival e comentou seu apreço especial por apresentações ao vivo, porque, com elas, pode ouvir seu público "cantando muito alto". Com isso, pediu ajuda de todos para cantar, dizendo estar sem voz — ainda que sua entrega e potência vocal mascarassem isso muito bem.
Caio demonstrou ser um excelente showman, oferecendo tudo de si em sua performance. O vocalista, durante as primeiras músicas, fez um stage dive e cantou em meio à plateia; depois, gravou vídeos do palco com celulares que fãs davam em suas mãos. E, interagindo intensamente com o público ao longo de toda a performance, até mesmo ensaiou o refrão da música Eu Escolhi a Dor antes de tocá-la, para que todos soubessem cantar. Fazendo isso, Caio administrou muito bem a dinâmica própria de festivais, que une fãs de longa data a pessoas que ainda não conhecem a banda.
Gabriel, ou Gabe, e Giovani também mostraram completa entrega e, desse modo, o show cresceu a cada momento, com a conexão entre público e banda sempre mais profunda e poderosa.
A apresentação atingiu seu ápice na última faixa, chamada Solidão, quando Caio chegou à beira do palco tocando guitarra e, de costas, deitou sobre a plateia que o carregou gentilmente, devolvendo-o, depois, à sua banda. A magia do momento — o vocalista flutuando pelas mãos de fãs enquanto tocava sua guitarra despreocupadamente — captou toda a atenção do público que, durante a canção, fez o último coro do show.
A performance da Cefa foi um acontecimento à parte no Oxigênio Festival 2022. A banda deixou sua alma no palco para um público que sentiu e respondeu a essa entrega vividamente. Impecável, técnica e artisticamente, o grupo marcou a noite de sábado do festival. Em suas redes sociais, Caio Weber disse ter sido um dos melhores shows de sua vida.
Ouça Cefa: