Foto por Felipe Yudi Sano - @fysano
No dia 1 de outubro, a banda australiana Sticky Fingers fez seu primeiro show em São Paulo, integrando o line-up do Encontro das Tribos - 20 anos, festival que reúne artistas do reggae, rap e trap. O grupo havia vindo pela primeira vez ao Brasil em 2020, para duas datas, uma em Belo Horizonte e outra em Porto Alegre. Agora, dois anos após a visita, o grupo voltou em turnê ao Brasil e ao Chile, passando, enfim, pelas capitais brasileiras São Paulo e Rio de Janeiro. O encerramento da turnê se deu justamente no Encontro das Tribos, realizado na Arena Anhembi.
Os Sticky Fingers — quinteto composto por Dylan Frost (voz principal e guitarra-base), Seamus Coyle (guitarra principal), Patrick Cornwall (baixo e vozes de apoio), Daniel “Freddy Crabs” Neurath (teclados e vozes de apoio) e Eric “Beaker Best” Gruener (bateria) — tocaram logo após o intenso show da banda Planet Hemp, que fez imensas rodas de bate-cabeça se abrirem na multidão.
O grupo australiano escolheu o clássico Enter Sandman, do Metallica, para fazer sua entrada no palco, e a plateia paulista estava já em êxtase, gritando e aplaudindo, em um vibrante alívio de quem muito esperou por esse encontro. Primeiro veio Freddy Crabs, fazendo sua entrada característica com uma bola de futebol e chutando-a para o público. Em seguida, vieram os outros integrantes. Cornwall, ensaiando um português desajeitado, como tipicamente fazem os artistas internacionais no Brasil, perguntou: “Tudo bem?”. Frost, por sua vez, disse: “Obrigado”.
Longe de se limitar a seu trabalho mais recente, o delicado e maduro álbum LEKKERBOY, lançado em 20 de abril de 2022, a banda mesclou faixas de quase todas as suas eras, proporcionando ao público uma síntese de sua trajetória musical - ponto que talvez os tenha deixado um tanto deslocados em um festival majoritariamente concentrado no reggae, no rap. O setlist se iniciou com a música Land of Pleasure, como é costume do grupo, uma potente canção que flutua entre o reggae e o indie rock.
O frontman Dylan Frost estava um tanto rouco, fugindo de alguns agudos, o que é compreensível ao se considerar a intensidade do vocalista durante os shows e o fato de ter sido este o último show da turnê. Além disso, Frost esqueceu algumas das letras e se confundiu com momentos de entrada do canto. Como bem sabem os fãs de longa data da banda, não é raro que o vocalista se confunda com as letras das músicas, mas nesta apresentação em específico ele parecia especialmente hesitante quanto às letras de certas faixas.
Ainda assim, as ocasionais batalhas que Frost travava consigo para alcançar certas notas ou lembrar frases não ofuscaram o brilho de sua energia e entrega a cada canção. Sorridente e muito carismático, o vocalista, sempre com apoio de seus habilidosos e entrosados companheiros de banda, soube contornar com talento cada dificuldade que surgia, instigando o público.
Depois, vieram canções recentes, do álbum LEKKERBOY, sendo elas Lupo the Wolf e We Can Make The World Glow. E, assim, a Sticky Fingers manteve os movimentos de setlist, ora indo ao passado, ora voltando ao presente, tocando Bootleg Rascal, My Rush, Rum Rage e Liquorlip Loaded Gun. A cada faixa, ia se construindo uma rápida intimidade entre banda e público.
Então chegou o momento que todos esperavam: Cyclone, música extremamente emblemática da banda. Quando apenas Dylan e Seamus ficaram no palco e o vocalista se dirigiu ao violão, a plateia não se conteve em seu entusiasmo. Durante a música, houve problemas de equalização e volume, Seamus pediu que aumentassem o som de sua guitarra e Frost rapidamente trocou o violão pela guitarra que havia usado até então. Mais uma vez, com naturalidade, o vocalista superou os problemas e recebeu uma apaixonada e sonora resposta dos fãs, que pareciam só ter visto a canção crescer em seus sentidos após os obstáculos.
Desse modo o show se encaminhou para um final eufórico, com How To Fly e Australia Street, músicas que reafirmaram a forte conexão estabelecida, com rapidez e espontaneidade, entre Sticky Fingers e sua base de fãs brasileiros.