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Lagum é Pedro Calais (voz), Otávio Cardoso, o Zani (guitarra), Jorge Borges (guitarra) e Francisco Jardim (baixo).

Publicado porLuisa Pereira

em 21/04/2023

Reflexivo, denso e cheio de camadas, Depois do Fim é o novo álbum da Lagum. Ao longo das 13 músicas lançadas - ao todo são 14, mas Coisa Boa segue indisponível por enquanto -, a banda pondera sobre perdas, desencontros e elabora o desejo de se autoconhecer em meio à dor de uma separação, seja em qualquer um dos níveis de relacionamentos.

Formado por Pedro Calais (voz), Otávio Cardoso, o Zani (guitarra), Jorge Borges (guitarra) e Francisco Jardim (baixo), o grupo traz ao público seu primeiro trabalho completo sem a participação de Tio Wilson, baterista da banda, que faleceu precocemente em 2020.

Sucessor de Memórias (de onde eu nunca fui) (2021) e introduzido por Fim, EP divulgado em março deste ano, Depois do Fim é resultado de profundos processos internos pelos quais os integrantes passaram nos últimos dois anos, especialmente os que precisaram enfrentar juntos. É, em sua intensidade e complexidade, um álbum de cura. 

A imensidão do fim e a vinda do recomeço

Para ambientar a temática do álbum, a Intro já começa com a boca de um fogão ligando e o som do fogo queimando. As vozes de Zani e Pedro se complementam ao final da faixa. “O acaso vai me guiar / O mundo reiniciou / E diz que é para melhorar / Aonde eu tô? Pra onde eu vou? / O acaso vai me guiar”.

Quase colada à anterior pela transição contínua, Depois do Fim fala, em ritmo dançante, sobre o fim de um relacionamento, aparentemente na fase em que a superação já está chegando. “Vê se vai sem voltar / Não olha para trás que eu tô seguindo em frente / Tem gente que começa só depois do fim

De amor eu não morri chega logo em seguida, também com uma abertura contínua com o final da anterior. Aqui, antes dela começar, é possível ouvir o início de Telefone, música que transborda o amor crescente e efervescente de um começo de namoro. Depois, como uma viagem no tempo, o ouvinte é transportado ao final dele, com a frase “melhor viver de amor do que morrer de vontade, vou seguir sozinho sem ter medo da saudade”. A faixa inteira mostra a busca do eu-lírico por aproveitar a vida e buscar a felicidade após um período intenso de tristeza. “Parece que eu renasci, mas de amor eu não morri”.

Uma das fórmulas de maior sucesso da Lagum, Olha Bela é uma música de amor e conquista. Nem vi que o tempo voou é curta e também traz a mesma temática da anterior, com o carimbo sonoro, com batidas rápidas e ritmadas, e lírico da banda. 

Mais lenta que a anterior, Outro Alguém é íntima, e fala do desejo de ser outra pessoa, sempre se questionando “e se eu fosse um outro homem?”. Nela, temos Pedro Calais poliglota cantando em inglês, francês e espanhol.

Depois do gancho de Outro Alguém, Habite-se é um grito pelo autoconhecimento após um relacionamento e uma mudança nos caminhos do álbum, deixando-o mais íntimo, sentimental e introspectivo. “Vejo um estranho no espelho que precisa se encontrar / Habite-se, alimente-se de si / Decido me escolher antes de me dividir”.

Frágil é composta por elementos de rap e chama atenção pelo contraste em relação ao início do disco, tornando os caminhos dele incertos. Com pouco mais de um minuto, a composição termina com um áudio feminino simulando uma caixa postal após uma ligação perdida. 

Com o papel de interlúdio, Mudou Nada traz uma possível recaída e introduz Ou não, onde o eu-lírico admite o amor que tanto o fez relutar no começo. “Volta e me diz / que tá tudo bem / e eu digo se esperava ou não”. Com um instrumental lento e gradual, a faixa tem elementos de sopro ao final, que deixam o tom emotivo ainda mais aflorado. 

Sobre Mim mostra o quanto a outra pessoa pode te conhecer mais do que você mesmo em uma relação, enquanto Ponto de Vista, uma composição herdada do EP Fim, exemplifica como uma separação pode fazer a pessoa não se conhecer mais e retrata a busca do eu-lírico por si mesmo. “Eu não sei amar / mas sei falar de amor / cansei de tentar ser quem eu não sou”

Mantra do Bom Término incorpora a dualidade de gostar da pessoa e, mesmo assim, querer vê-la feliz de longe e sem o relacionamento. “Quero é te ver bem / Mesmo que sem mim / É bom, mas é ruim, te ver feliz”.

Mesmo mais introspectivo do que os outros três discos da banda - Seja o Que Eu Quiser (2016), Coisas da Geração (2019) e Memórias (de onde eu nunca fui) (2021) - Depois do Fim é, indiscutivelmente, um trabalho esculpido sobre a sonoridade clássica da Lagum e incrementado com descobertas e experimentações do grupo.

O disco transporta o ouvinte para as várias fases de uma perda, com os conflitos internos - como não se conhecer mais sem a pessoa -, mesclados com os momentos de superação e euforia ao conseguir seguir em frente, além da dualidade de querer a outra pessoa bem e feliz. Assim, Depois do Fim é um projeto maduro, cheio de nuances e que acompanha o desenvolvimento dos quatro integrantes da Lagum

Ouça Depois do Fim:

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