Em uma fase de reclusão e cheio de vontade de fazer música, Didi Fiorucci embarcou de corpo e alma na produção de Formato, seu novo EP visual. Os resultados desse processo catártico e dual são uma intro e quatro faixas da mais pura resposta a si mesmo quanto aos acontecimentos de 2020 e 2021, período em que vivenciou e retratou tudo em suas letras.
Envolto pelo processo, o músico consegue trazer um trabalho solo forte, após anos participando de bandas ou, então, co-criando em Didi Fiorucci & Os Viajantes do Tempo - grupo formado por ele e alguns amigos para conseguir tocar suas músicas do projeto solo, a época apenas seu álbum de estreia A Manhã (2018), em shows, relação que acabou evoluindo para o apoio nas produções a serem lançadas, como o EP Casa (2021) - e pelo qual se orgulha de cada passo dado.
“Fico bem feliz como isso aconteceu e com o resultado. Foi um trabalho completo - não diminuindo os trabalhos colaborativos, são muito legais, mas eu já tinha experimentado -, fazer algo que saiu completamente de mim, foi muito legal. Cada coisa que foi adicionada, cada mão que tocou nesse trabalho na finalização, fez muito parte do que está saindo agora”, afirma Didi em entrevista exclusiva ao Lindie.
Natural de Curitiba e criado em Palmeira, no interior do Paraná, o compositor criou laços fortes com a cidade em que cresceu e onde aprendeu o que era escrever uma canção. Neste projeto, o retorno ao lar foi uma das etapas do processo. “Quando voltei a Palmeira no início da pandemia, criou-se um processo que foi muito importante para mim, olhando pelo ponto de vista do fazer, do processo mesmo”, fala ele.
Tudo foi lento e, ao mesmo tempo, um turbilhão no tempo. Entre viver as situações e escrever sobre elas, ele escolheu as duas opções. “Eu falo que é um EP autobiográfico e isso pode ficar um tanto abstrato, porque as letras tratam bastante de questões existenciais e que parecem universais. De uma certa forma, a narrativa conta, mais ou menos, o que eu estava vivendo nesse processo de materializar uma ideia, de dar vida a uma coisa - nesse caso o próprio EP -, saindo de um lugar interno desconfortável e distrativo para passar por todo um processo de descoberta e reinvenção, chegando a uma conclusão positiva. Isso para mim foi um desafio de me propor, claramente, colocar para fora uma mensagem positiva nos tempos que a gente viveu”, explica Didi.
A vivência e transparência em Formato
Apresentado de forma multissensorial, o EP pode ser ouvido e visto. Já na Intro, faixa que abre o trabalho, o ouvinte é convidado para mergulhar no mar de introspecção latente criado por Didi Fiorucci. Em seguida, chegam Distração - única com participação externa, com Irapuan Luiz, quadrinista, músico e pai de Didi, que tocou o contrabaixo -, Esquecer e Lembrar, Mudança e Beleza para mostrar todo o enredo do EP.
Esquecer e Lembrar é uma faixa que transita entre salsa e tropicália, trazendo o elemento da reflexão e do lamento fixados à sonoridade. A música traz à tona o quanto as lembranças são parte da vida, mas não devem guiar o presente ou o futuro, já que não é mais esse lugar que ocupamos. !E parar de correr atrás daquilo que não sou eu”, canta.
A voz de Didi se molda conforme sua interpretação da letra, ora suave, ora intensa. Mudança é uma das faixas em que isso fica mais perceptível, quando o tom acompanha as viradas da guitarra e as alterações de ritmo, enquanto incita a mudança interior.
Beleza, última do EP e a que iniciou a produção do projeto, traz a calmaria após a transformação, onde as coisas já foram resolvidas. “Ela traz a afirmação, de que não há coincidência, tudo está em seu lugar, e que a beleza pode ser percebida através dessa afirmação. Há uma qualidade catártica nesse processo", conta ele.
As gravações, feitas por Didi e seus pais, Irapuan Luiz e Michelle Fiorucci, completam as faixas de forma natural e trazem o EP à dualidade dos sentidos auditivos e visuais. Em Formato, o compositor se percebe, conhece e descreve, levando todos a sua jornada em busca de seu tão sonhado trabalho 100% solo.
Ouça Formato: