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Bilhete escrito “I Slave Help me” encontrado em uma encomenda vinda da China. Atrás há uma pessoa costurando roupas.

Publicado porLuisa Pereira

em 11/10/2020

Há quem acredite que a música não passa de entretenimento. Para essas pessoas, não é preciso juntar elementos sociais às composições e, muito menos, assumir pautas emergentes no debate público nas letras. Felizmente, essa não é a ideia de boa parte dos músicos, principalmente os da cena independente brasileira, que permanecem elevando discussões em seus versos.

Esse é o caso de Luca Libre, cantor e compositor, em seu mais recente lançamento “Help I Slave”. Escrita há alguns anos, a letra traz uma reflexão sobre a sociedade e a origem dos bens de consumo, produzidos cada vez mais com precariedade. Um exemplo disso é o mercado fast fashion, que possui uma cadeia de produção em larga escala para suprir a demanda e é o segundo mercado que mais escraviza no mundo, atrás apenas da área de tecnologia.

Com a pandemia, essa relação de trabalho ficou ainda mais sensível. Ao menos no Brasil, as costureiras, em sua maioria imigrantes da América Latina, passaram a ganhar R$ 0,05 centavos por máscara fabricada. Enquanto isso, as organizações que pregam a melhoria das condições de trabalho na indústria têxtil afirmam que esse valor deve ser de cinco a 30 maior, ficando entre 50 centavos e três reais.

Apesar do tema ganhar notoriedade por conta do agravamento da fragilidade, o trabalho escravo já era discutido popularmente em alguns casos mais chocantes. A inspiração de Luca é proveniente, justamente, de um desses. A partir da notícia - apresentada na TV - sobre um bilhete preso à uma encomenda comprada na China em que se lia "I slave help me", a música foi escrita. “Usei, inclusive, a foto do próprio bilhete como capa”, conta.

Em um trecho, Luca Libre canta “olha que tristeza, que humilhação, meus bens de consumo são frutos da exploração”, em alusão ao momento de descoberta dessas práticas. “Se eu trocar de marca, será que vai mudar? Quem faz o produto que eu quero comprar?” é outro verso de destaque. O artista descreve a sonoridade do lançamento como uma mistura de “punk rock no meu folk”, fazendo jus às letras mais críticas. 

“Help I Slave” é a segunda música da nova fase musical de Luca. Denominada por ele de “Punk Rock para as Rodas de Violão”, o trabalho se junta a “33”, que traz o autoritarismo político para o debate. Anteriormente, o EP “Libre” já estava no mundo com quatro faixas mais leves. “Eu agrupei ciclos de lançamentos de acordo com a temática das músicas. Eles não estão na ordem de escrita”, afirma ele.

Flutuando entre os estilos, Luca Libre mostra que ainda tem um largo repertório a ser lançado pela frente, como as versões punk originais gravadas. Por enquanto, as faixas ainda estão guardadas e esperando a vontade do artista. “Penso em continuar esse caminho do folk punk”, afirma ele.

Ouça a música “Help I Slave”:

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