Um vocal feminino potente alinhado a um instrumental forte e letras sensíveis, reflexivas e autênticas descreve a sensação de ouvir a Radioativa. Formada em 2009 no Rio de Janeiro e atualmente composta por Ana Marques (vocal), Felipe Pessanha (guitarra e synth), Fabricio Oliveira (guitarra), Rodrigo Aranha (bateria) e Lucas Reale (baixo), a banda traz um pop punk autêntico e colhe frutos dos longos 13 anos de estrada.
Com três EPs - Acredite (2012), Se Ainda Há Razão (2015) e Ato Três (2017) -, o grupo fez, desde então, o lançamento de três faixas, AM, em 2020, Marte, esse ano, e, o mais recente, Como As Coisas São, acenando para sua nova fase. Ao longo da história do quinteto, muitas coisas mudaram, desde a formação quanto ao nível de maturidade dos integrantes, que foram evoluindo à medida que as conquistas da Radioativa chegavam.
Entre os grandes momentos do grupo carioca estão as aberturas de shows de bandas como Chunk! No, Captain Chunk! e Evanescence - essa última, após ganhar um concurso da Rádio Rock de SP (89,1 FM), com Amy Lee como jurada. “Foi o maior divisor de água das nossas vidas. Toda banda independente tem uma virada de chave “será que vale a pena continuar?” e quando a gente ganhou esse concurso ficamos incrédulos com o início. Primeiro, porque Evanescence é a minha referência de rock com mulher cantando. Em 2003, o primeiro CD que comprei foi o Fallen. Nunca imaginei que o dia que conhecesse eles, fosse no mesmo palco”, conta Ana Marques, em entrevista exclusiva ao Lindie.
“A gente passou (na primeira etapa, por votação popular), mas não acreditávamos que iríamos ganhar justamente por que os estilos são um pouco diferentes: tocamos pop punk e o Evanescence é algo mais para o rock alternativo com um pouquinho de metal, com um estilo próprio que é só deles”, continuou.
A experiência rendeu um novo olhar sobre o modo de performar que o grupo tinha. “A forma como ensaiamos shows hoje foi desenvolvida para esse. O jeito como nos comunicamos, como agimos. Antes era muito amador, chegamos e pensávamos “vamos ver o que vai dar”. Depois disso, realmente viramos essa chave para shows, foi bizarro, crescemos muito como músicos e como pessoas”, relembra Ana.
Nova fase
Anos depois da Evanescence, a Radioativa seguiu amadurecendo e refletindo isso nas músicas. No último dia 17 de outubro, eles disponibilizaram seu novo single, Como As Coisas São que, antes mesmo de seu lançamento, rendeu bons frutos à banda. “Ela fala sobre aceitar as coisas como elas são, aceitar o que vem, seja ganhar ou perder. Tem uma parte da letra que fala sobre se perdoar por isso. Ela é muito sobre esse sentimento de não se cobrar tanto, mas não deixar de ser autêntico”, conta Ana.
Entre esses frutos está a vitória no concurso da Gerdau, que garantiu a banda no Rock in Rio 2022 e para o qual a música foi composta. “O primeiro verso foi escrito na época de Ato Três, tinha um refrão que não gostamos e decidimos engavetar. Para participar do concurso da Gerdau precisávamos de uma música inédita e tínhamos acabado de lançar Marte, sem nada não lançado, então fizemos ela em um dia. Criei toda a letra e, por áudio, fomos mandando no Whatsapp. Não nos reunimos para ensaiar, então fomos direto para o home studio do Matt Nunes, nosso produtor, gravar. Basicamente, escrevemos em um dia, gravamos e, no outro, o Matt enviou finalizada para gente. Era o tempo limite de enviar para o concurso”, explica ela.
Para complementar a faixa, a banda também pensou em um clipe que refletisse como é estar um dia com eles, desde a parte legal, como o show no RiR, quanto dos perrengues enfrentados em deslocamento e outros pontos. No vídeo, aparecem cenas do Rock in Rio e do 20 º Festival de Rock de Indaiatuba, concurso vencido pela Radioativa.
O futuro e a cena
Apesar da retomada do emo e pop punk no mainstream e nos Estados Unidos, a onda ainda não chegou na cena underground brasileira como um todo, especialmente em locais com menor possibilidade de deslocamento entre as regiões, como o Rio de Janeiro. “Na cena do Rio, pelo menos, quem acompanha é a galera que cresceu junto. Então quem comparece são as outras bandas, não parece que tem público que é só público, são sempre outros músicos. Mas, quando fazemos shows em outros lugares, percebemos melhor essa movimentação”, fala Ana.
“No Rio de Janeiro, tem o problema do deslocamento, que não tem uma estrutura de transporte boa. Temos outro problema que é a segurança. [...] Isso tudo já não favorece muito. Aqui, tem que fazer shows em várias áreas para agradar o público perto ou na região deles. Assim, não existe fazer um show em um lugar só e esperar que todo mundo vá”, complementa Lucas Reale.
No entanto, em outros locais, os músicos sentem mais essa movimentação do público. “Quando você toca em uma cidade menor, a cidade inteira vai ou quando você toca em uma cidade com estrutura, tipo São Paulo, o pessoal que mora na Zona Leste, outro na Sul e o cara que vem lá de Indaiatuba vem te ver”, conta ele em referência às pessoas de todas as idades que foram falar com eles no Festival de Rock de Indaiatuba.
Ainda assim, a banda é um dos pilares da cena de rock alternativo, pop punk e emo carioca e, mesmo com o recente lançamento de Como As Coisas São, já vê no horizonte os próximos passos, que, segundo Ana Marques, trarão uma mudança para o grupo.
Ouça Radioativa: