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Vidaincerta aparece em uma rua, com jaqueta branca, óculos de sol e máscara PFF2.

Vidaincerta se prepara para lançar álbum e corre para movimentar a cena emo independente nacional com o selo Tri$tezamob

Publicado porLuisa Pereira

em 06/10/2021

Viver entre dois mundos sempre fez parte da vida de Gilberto Junior, o Vidaincerta. Entre o emo e o rap desde a infância, quando um primo deu uma fita com um lado Offspring, e do outro Racionais, o artista se prepara para lançar seu segundo álbum da carreira solo, O que sobrou da tristeza, em novembro. Até agora, foram lançados os singles O Novo, em parceria com Gáh Goes, e Emodrill. Ainda antes do disco, sairá mais uma faixa com sample da Fresno, onde, misturadas na letra, serão citados os nomes de 35 músicas da banda.

“Essas músicas [em referência ao álbum inteiro] são o que sobraram de uma época em que eu estava péssimo, que a minha atual esposa tinha me dado um pé na bunda, com muita razão, e eu fiz várias músicas tristes que sobraram aqui. É um disco que marca uma fase de uma pessoa que eu não sou mais. É essa a conversa que eu quero ter linkada ao disco: irmão, procure ajuda. Por mais que seu amigo vá te escutar e te dar um bom conselho, só um psicólogo vai poder te ajudar”, explica Vidaincerta em entrevista ao Lindie.

Isso porque o primeiro disco do músico, Pessoa Tóxica, apontava para um outro lado dele, “feito como uma resposta aos posts do setembro amarelo”, como ele afirma, quando as pessoas abrem os canais de mensagem nas redes sociais para que outras possam desabafar. Após um processo de autoconhecimento e terapia, Vidaincerta brinca sobre O que sobrou da tristeza: “sou uma farsa, vou ter um filho e minha mulher me ama, não consigo fazer música triste”.

A chegada no Emo Rap

Com a veia nos dois estilos, Vidaincerta ouvia, desde a época em que estava na banda, Emicida, Rashid, Cone Crew Diretoria, e Racionais durante as viagens. As referências como Lil Peep e XXXTentacion também fazem parte desta fase do artista.

“Quando a banda acabou eu fui atrás disso. Eu também sempre fui encanado com a parte de “ser cantor”, existia uma autocobrança em mim de estar sempre evoluindo enquanto cantor e eu senti no rap uma oportunidade de me expressar sem ficar tão noiado de ser um super cantor e, naturalmente, eu comecei a me enxergar nos clipes de rap, não foi programado, mas fez eu me sentir muito bem. Graças a quantidade de clipes de rap e trap que ficaram populares, eu fui ficando melhor comigo mesmo. Exatamente por isso que eu gosto de fazer essa mistura do rap com o emo para trazer para o Brasil essa parada que já é bem discutida lá fora”, conta ele.

O selo e a caminhada compartilhada

O músico luta para movimentar a cena independente nacional com seu selo Tri$tezamob. Na estrada há mais de uma década, o músico fez parte da banda Analisando Sara por nove anos, onde percebeu que, para ser um artista independente, era preciso assumir mais papéis além dos musicais. “Entendi que sozinho a gente não vai a lugar nenhum, não só para fazer as coisas internamente, mas também para vender shows”, conta ele.

Ao longo da pandemia, este ponto ficou ainda mais latente na vida do músico, que recebia cada vez mais pedidos de amigos para trabalhos em clipes, capas, entre outros processos que envolvem um lançamento musical. “A tri$tezamob, achei um nome super legal, criei as redes sociais ali em 2018 ou 2019, mas da mesma forma que eu tenho umas 20 contas no Twitter que são de projetos que, se algum dia eu quiser tocar, o nome está criado. Então juntei essa galera, o Rodrigo, que é produtor de conteúdo, me abriu a cabeça para o trabalho de formiguinha na internet, que é preciso sempre movimentar as redes para uma galera nova. Então tenho feito lives no Youtube e na Twitch e sempre aparece uma galera para trocar ideia e é uma forma de expor os meus amigos. Eu sempre fui muito fã do produto nacional, sempre fui o cara que sabia cantar as músicas das bandas do bairro e não estava tão ligado no que estava rolando no cenário internacional e sou assim até hoje, eu manjo só as mais famosas do Travis Scott, só o pessoal mais do emo que eu acompanho mais, XXXTentation, que eu fiquei mais vidrado, assim”, relata.

Até o momento, os dois primeiros singles de Vidaincerta foram lançados pelo selo para criar uma movimentação adequada para os próximos trabalhos, o artista se prepara para, em breve, soltar novidades sobre projetos de Porto Alegre e Santos. “Do Sul, de Porto Alegre, tem o Alex Aguiar, que somos amigos exatamente por conta do cenário de rock, eu já toquei lá graças a uma ponte que ele fez, e ele cresceu muito na stream e estamos pensando em fazer uns traps de Fortnite, apostar em algo bem nerd para captar a galera mais nova. O projeto que eu estou mais animado é o de uma galera do Rio de Janeiro, Brasil Grime Show, que vários vieram do rock, e brincando com o nome deles eu vou fazer o Brasil Emo Drill”, adianta. 

A retomada do cenário

O movimento emo dos anos 2000 marcou uma geração de norte a sul do Brasil. No entanto, foi marcado por algumas questões problemáticas que, nos dias atuais, são completamente inadmissíveis. Entre as marcas, a homofobia por conta das letras melódicas e calças skinny, acentuada na época em que o cenário se tornou mais colorido com a banda Cine e Restart. “Essa era a pior parte do movimento para mim, eu sou da época em que você precisava mandar fazer a calça skinny, não tinha na Renner ainda”, comenta. “Eu ouvia muita graça na rua, era realmente hostil você ser emuxo durante um certo tempo porque existia esse preconceito bobo, principalmente a galera da cena de rock, que foi muito ingrata com esse cenário. 

Para além da homofobia, o racismo também permeou o movimento e as bandas que ganharam destaque na cena. “A Willow Smith falando sobre como ela se sentia oprimida por ser uma negra que gostava de Paramore e a galera meio que zoava. Eu me sentia muito oprimido por não me ver nas bandas, sabe? Tirando o lindo, maravilhoso (risos), eu não me via em nada e isso era muito complicado pra mim, eu espero que o adolescente de hoje que se envolva com isso”, fala Vidaincerta. “Espero que esta nova cena recente do emo seja uma parada muito mais abraçada com os valores que existem dentro disso. O emo foi uma parada que me trouxe muitos valores. Na minha banda tinha uma menina na guitarra, então o convívio ali com ela e a forma que eu vi ela lidando com o machismo, tipo, ela subir num palco ou regular o amplificador e vim ao homem e achar que regulava melhor que ela e coisas do gênero, sabe?”, finaliza.

Ouça Vidaincerta:

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