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Mateus Bragard, Gustavo Ungarato, Gustavo Martins e Fernando Assis, todos de preto e olhando para câmera.

Publicado porLuisa Pereira

em 25/10/2021

É normal que em um ano ou dois as pessoas não sejam mais, exatamente, as mesmas. Diariamente, o processo de amadurecimento e mudança estão em curso. O mesmo acontece com as bandas que, não necessariamente, produzem a mesma sonoridade para sempre. Com a Hadezi, grupo carioca, essa etapa foi ainda mais intensa, chegando ao ponto de se distanciar completamente do som que produziam antes, como pode ser ouvido em Plano B, álbum de estreia da banda, ainda com outra formação, lançado em 2019.

Mas o processo não foi de uma hora para a outra. De 2019 para cá, o grupo passou por um período ocioso na pandemia, quando ficou totalmente parados entre março e outubro de 2020 e por mudanças na formação, com a entrada de Fernando Assis na bateria e Gustavo Ungarato no baixo, que completaram o time com Mateus Bragard e Gustavo Martins, ambos nas guitarras e vocais e integrantes da Hadezi desde sua formação.

“De uns tempos pra cá mudamos totalmente nosso pensamento sobre o que é ter uma banda. Começamos com a ideia, que acho que todo mundo tem, que é “vou tocar o que eu gosto e fazer o meu som”, mas agora pensamos de outra forma, já que para fazer a banda aparecer para o mundo, ela tem que fazer uma coisa que marque, uma coisa diferente, porque se não você vai ser uma cópia de uma coisa que já existe e nunca vão te conhecer, você vai ser sempre a cópia do fulano que já apareceu. Então começamos a tentar cavar uma sonoridade única baseada nas referências de todo mundo”, conta Martins em entrevista ao Lindie. “Assim, podemos dizer que essa é a Hadezi”, conclui.

O primeiro passo - e o mais direto - para mostrar a mudança na banda será dado na próxima terça-feira, 26 de outubro, com o lançamento de Reconhecer, primeira música nova desde 2019. 

Nova formação

Ter uma banda, ainda mais independente, não é uma tarefa fácil, já que os músicos precisam abdicar de momentos de lazer para estar junto ao grupo e, além disso, acumular outras funções, como a de empresário, publicitário, entre outras. Durante essa fase, há quem descubra que, na verdade, não está em sintonia com o processo.

"Quando vemos uma banda, achamos que é muito fácil porque todas que a gente vê já estão lá na frente fazendo mega shows, já consolidadas, então é difícil pegar do início como é ter uma banda. Tem a parte que é muito maneira, e por isso estamos aqui, mas também existe muito trabalho, que é a parte de discutir divulgação, estratégias de lançamento e outras coisas que nem sempre são tão legais”, explica Martins. 

Assim, entre desencontros e novos começos, Fernando e Gustavo Ungarato entraram na banda. “Essa [formação] encaixou, engrenou bem legal e a galera está bem focada. Esse lançamento que a gente vem postando, que estamos fazendo de audiovisual junto com a parte sonora, mostra o quanto estamos em sincronia”, conta Martins. “Estamos conseguindo gravar música, nos encontrar com regularidade, então já dá pra ver que essa formação está dedicada e empenhada com os próximos lançamentos”, afirma Mateus.

Processo de amadurecimento

Conectados às suas influências do pop punk e newcore, os artistas produziram Plano B com apenas seis meses de banda. Os lançamentos, que consistiram em um EP com seis faixas e, depois, a junção de mais duas para fechar o disco, trouxeram a Hadezi para dentro do cenário underground carioca e nacional. No entanto, estar em evidência também trouxe feedbacks significativos sobre o trabalho apresentado até então. 

“As pessoas ouviam o nosso primeiro álbum e vinham falar “pô, as bandas dessa época eram muito legais”, se referindo a 2000, só que o nosso disco é de 2019, então, assim, a gente não é daquela época, então nosso som era muito datado de um período que já passou e não vai voltar. Desde então pensamos “cara, a gente tem que fazer uma coisa mais atual e diferente de preferência", foi aí que começamos essa busca por uma coisa diferente”, relembra Martins.

À época, esse início de processo se desenvolveu nas últimas duas músicas lançadas, que possuem “um pezinho no sintetizador, nada muito evidente”, como afirma Martins. O desejo de encontrar um som único pautou Gustavo Martins e Mateus Bragard em todas as suas escolhas para a banda desde o momento. A escolha, por fim, foi por aprofundar o conhecimento e usos dos elementos eletrônicos, “sem que fique trash, de uma forma harmônica com guitarras, um som mais pesado e uma coisa mais atual”, definiu Martins.

Neste meio tempo, a pandemia começou e a banda ficou, pelo menos, 95% parada até outubro de 2020. “Foi importante porque a gente começou a ficar angustiado de não estar fazendo nada, então muito da força de seguir veio dessa pausa. Quando está tudo andando, achamos que está tudo bem e, às vezes, precisamos dar um gás e não estamos vendo. Durante esse tempo a gente ficou paradão, então veio uma força dessa pausa, foi muito importante nesse sentido, não queria ter tido, mas foi muito importante”, comenta Martins.

O tempo passou e os caminhos da dupla se uniram com Fernando Assis ainda antes da entrada dele na banda. “O Mateus me mandou uma mensagem e eu pensei “pô, vamos ver como é o som deles” e o Gustavo me mandou uma porrada de música e pensei “cara, tem umas paradas que são bem maneiras”, só que eu peguei as músicas sem nenhum refino, era o negócio cru mesmo. Sempre ouvi essas influências [as que agora são usadas na banda, como The Seekers e Thirty Seconds to Mars] então, na minha cabeça, fazia muito sentido poder botar essas referências - tenho muitas com o Mateus e com o Gustavo, mas com o Mateus são mais - e nós fomos casando ideias e o som, que já tinha uma base legal, começou a ir se refinando, se refinando, se refinando tanto que chegou onde a gente chegou”, explica Fernando. “E eu acho uma parada muito maneira porque mesmo os meninos evoluindo ao longo desse tempo, foi uma coisa que a gente casou juntos quando eu entrei e foi uma coisa que só foi para cima”, completa.

Para Gustavo Martins foi algo natural e de amadurecimento passar a ouvir, ainda mais, outras bandas. “Fomos migrando para Supercombo, Scalene, Bring Me The Horizon, Thirty Seconds to Mars, Linkin Park, já conhecíamos essas bandas, mas foi mais natural ouvirmos mais esse tipo de influência. A questão foi o click de pensar “pô, vamos fazer uma coisa que não tem aqui?”, ou então “cara, vamos tentar fugir do que já aconteceu? Vamos fazer uma coisa que ainda não rolou aqui, mas com um olhar aberto”. Acho que essa é a parada, de você estar aberto a experimentações”, descreve Martins. 

O processo teve, além de tudo, tempo de amadurecimento pessoal dos envolvidos, o que contribuiu para a nova fase da Hadezi. “A maturidade da banda está bem evidente, com letras mais maduras, buscando mais elementos de música pop, músicas modernas, como sintetizadores, e também com uma pegada mais pesada. Não conheço nenhuma banda no Brasil que tenha essa sonoridade, com uma mistura de um rock bem moderno, evidente, com influências de bandas emo lá de fora e letras bem maduras”, relata Mateus.

Reconhecer

A jornada dos músicos neste novo estilo começa a ser vista - e ouvida - nesta terça-feira, 26, quando Reconhecer chega às plataformas digitais. A faixa, mais diferente entre a nova safra de canções do grupo, foi uma unanimidade para voltar com o pé na porta ao cenário nacional. "É uma música muito boa. Eu diria que ela tem muita dinâmica, partes calmas, outras mais pesadas e gosto muito da letra dela. Acho que ela está o tempo inteiro surpreendendo quem está ouvindo porque toda hora têm elementos novos”, adianta Mateus.

"Quando o Fernando entrou, apresentamos todas as músicas para ele e essa foi meio que intuitiva de pegar. “Não, vamos começar a trabalhar nessa aqui, ela já está muito boa, eu só mudaria algumas coisas” e nós começamos essas mudanças e ela ficou pronta. Focamos nela. Quando você acha que ela vai para um caminho, ela vai mudar, então vai ser muito bom”, diz Martins. 

A ideia dos artistas é, realmente, impactar o máximo possível logo de cara. “Reconhecer já surpreende logo no início, já chega dando um chute na porta e eu falei “gente, tem que ser essa, não pode ser uma música convencional, um som qualquer, tem que ser algo que diga que nós voltamos diferentes”. Tem outras músicas na mesma pegada, mas como essa não tem. Foi unânime mesmo e começamos a trabalhar direto nela. Lembro que quando a gente ia para ensaio, fazíamos duas horas de Reconhecer, depois íamos para a casa do Gustavo e tocávamos ela mais vezes”, fala Fernando. "Para quem gostava do primeiro álbum, vai tomar um chutão na cara, porque não tem nada a ver, é uma coisa muito diferente. É um som muito mais amadurecido, mais pesado e traz elementos diferentes do primeiro álbum, tá vindo um som beeeem diferente”, finaliza ele.

Os novos ares da entrada de alguém com novas visões juntamente com a sintonia entre os artistas, foi um elemento transformador para a faixa em questão também. “Reconhecer só está do jeito que está muito por conta do Fernando porque é isso que ele estava falando, eu e Mateus evoluímos juntos, e o Fernando entrou na mesma onda, casou um absurdo de bem, então muito se deve ao Fernando, que trouxe uma visão externa que não tínhamos antes”, conta Martins. “Tem um pouco de cada um, foi um processo muito maneiro de trabalhar, era reunião todos os finais de semana para refinar ainda mais o som, até hoje é assim”, relata o baterista. 

“É muito legal que cada um tenha uma visão sobre a música. Uma pessoa faz a música e apresenta, o outro vai lá e fala os que poderia ter um elemento novo, o Fernando vai e sugere a mudança de estrutura. E assim a música vai se moldando, moldando, moldando até chegar a esse produto final que já não tem nada a ver com aquele processo cru do início”, descreve Mateus. Gustavo Ungarato, o caçula da Hadezi, complementa: "está tudo bem diferente, tanto em afinação, elementos na música, tudo diferente e eu diria que bem melhor”. 

A letra, escrita por Mateus, fala, justamente, sobre evolução. “É uma letra que fala sobre os momentos que passamos na nossa vida em que a gente tem uma visão de mundo e alguma coisa acontece, um término de um namoro, você perde algum parente, algum evento traumático acontece na sua vida, e esse acontecimento faz com que você mude sua visão de mundo de forma que você se torna uma pessoa diferente, não necessariamente pior, uma pessoa mais madura”, diz o compositor. “Reconhecer deixa bem explícito como é esse processo, que muitas das vezes a gente fica confuso, triste, olhamos para a frente e não vemos um futuro ou coisas tão bonitas, mas estamos sempre lutando para sempre almejar coisas boas. Então, apesar de ser um tema bem sério, uma pegada bem melancólica, é sempre bom deixar claro que estamos almejando coisas melhores. A música deixa isso claro também”, materializa Mateus. 

A banda por ela mesma

Como banda independente, o lançamento do single vai além de, simplesmente, questões sonoras. As questões estéticas, materiais gráficos e fomento da curiosidade dos fãs nas redes sociais também passaram por eles. Para Reconhecer, os músicos adotaram um estilo que combina com a faixa e o momento de revelação por trás do novo som, mais distorcida e enigmática. 

“Nós temos que sair da zona que a gente tem um pouco mais de segurança, para ir para uma parte visual que a gente não tem tanto domínio. Mas a gente tá mandando muito bem, estamos nos descobrindo, pegamos uma estética que encaixou tanto com sonoridade, letra e clipe. Ela deve ser a macro estética do álbum também”, diz Martins. 

Próximos passos

O foco total da banda agora é no lançamento de Reconhecer, porém, há mais cinco faixas gravadas até o momento. A ideia é ter mais singles ainda em 2021 e completar o ciclo com um álbum no próximo ano. “Temos tantas músicas que estamos precisando cortar para o álbum, temos mais do que pensamos em lançar, então o que não falta é música. O processo está caminhando. Então o álbum está por vir em 2022, se Deus quiser em fevereiro ou março lançamos ele”, joga Martins. 

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