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Paula Azzam está de cropped preto, deitada quase que de lado, olhando fixamente para a câmera. Refletidas nela, há luzes cor de rosa.

Publicado porLuisa Pereira

em 25/08/2021

Apaixonar-se por alguém sozinho, de forma anônima já aconteceu com praticamente todo mundo. É, assim, uma sensação conhecida. Assim como quando os sentimentos por uma pessoa afloram, e você sente. Quando a paixão decai de intensidade e termina, você também sente. De tão compartilhados entre os seres e, na maioria dos casos, vividos mais de uma vez, as três faixas que compõem o EP ‘P’, de Paula Azzam, traduzem com delicadeza e suavidade esses momentos em mais de uma ocasião.

Iniciadas em 2014, "Platônica”, “Pedaços” e “Par” foram finalizadas em 2020, após o início da pandemia. “Tem música que eu não tinha terminado, que eu terminei só agora, que tinha harmonia antiga, coisas que eu juntei recentemente”, conta a cantora e compositora. “Estou muito feliz porque eu tirei um um superprojeto do papel. Era uma coisa que eu estava com muita ansiedade de colocar no mundo. Então, acho que essas três canções são os meus trabalhos mais importantes até agora na carreira”, completa.

Cheio de coincidências, o projeto carrega o nome “P” por ser a letra inicial de todas as faixas, além de também ser a primeira letra do nome de Paula. Liricamente, a artista conseguiu unir três fases de uma história e contá-la perfeitamente. “Foi muito doido porque essas três canções eu escrevi em outra fase da minha vida. Elas trazem muito dessas três fases de um amor ou de uma paixão, de um relacionamento. Escrevi elas há sete, oito anos e eu poderia ter escrito hoje, sabe? Acho que são coisas que eu escuto e eu falo. Nós passamos por isso e são sempre pelas mesmas fases”, elabora.

Para além desse conceito, Paula também designou um elemento da natureza como representação para cada uma das faixas. Deste modo, “Platônica”, é simbolizada pelo ar, “Pedaços”, gelo e “Par”, o fogo. O público pode ter a experiência completa, como em um filme, de vivenciar todo o desenrolar da trama por meio da junção dos lyric videos em um único para todas as canções. “Foi uma ideia de última hora juntar num vídeo só. No primeiro que o Gabriel fez, de Platônica, com as nuvens, eu amei, fiquei babando. Por mais que seja um conceito supersimples, acho que ele entregou tudo que eu precisava. Essa música traz uma coisa meio do ar, da dúvida, da espiritualidade, do mundo das ideias. Essa é a definição que eu queria: mundo das ideias. Depois disso eu pensei “essas três músicas são diferentes porque são fases”. Pedaços é muito sobre uma quebra de expectativa é sobre tipo uma decepção, então o gelo representa. Par, é fogo, ela é só fogo, ela é a chama da paixão e calor”, explica a cantora.

Vida em meio à música

Nascida e criada junto à música, Paula Azzam é filha de um flautista, que toca em orquestras e bandas de choro desde jovem, e de uma cantora de MPB. Desde os quatro anos, andava com um violão a tiracolo pelos cômodos. Ao longo dos anos, as referências da MPB e do Rock se fundiram. “5aseco, Dani Black, Paulo Novaes, Anavitória, Vanguart, Zimbra, Duda Beat e Céu. Referências gringas antigas, eu sou Beatlemaníaca, então Beatles é uma das minhas maiores referências para tudo, Foo Fighters apesar de ter esse lado do MPB, foi a banda que eu mais escutei na minha vida provavelmente. Entre as atuais da música pop, o soul, que também foram importantes para o meu trabalho, Daniel Caesar, Alicia Keys, Billie Eilish e Her”, compila ela.

A artista também carrega forte identificação com o samba quando ingressou na bateria da faculdade, enquanto cursava Publicidade e Propaganda, e conheceu mais pessoas como ela, que se interessavam por música, que formaram a banda Petrixó, em 2013. Em paralelo, conheceu a Escola de Samba Águia de Ouro e, ao finalizar a graduação, voltou para o Carnaval de São Paulo com a Escola de Samba Colorado do Brás, onde é diretora de carnaval.Como mestre e representante da direção da bateria, participou do Bloco Emo e do Calor da Rua.

Para dedicar-se à área da música, ingressou na graduação de Produção Musical, além de se tornar professora de piano.  

A artista nasce

Com a agenda sempre cheia, a produtora e professora musical se viu com cancelamentos, adiamentos e suspensões em seus trabalhos quando a pandemia começou no Brasil. O maior tempo em casa, em isolamento, possibilitou - ainda que em meio aos percalços - a olhar para dentro e revisitar suas letras antigas. Deste processo surgiu o trio que integra o EP. “Acho que por muito tempo eu esqueci dessas músicas pela minha correria, sabe?”, comenta. 

O conhecimento e ferramentas para produção possibilitam maior autonomia de Paula. “Eu produzi, eu gravei e instrumentei”, afirma. “Foi um superdesafio porque parece que quando a gente tá trabalhando sozinho a gente cobra cinquenta vezes mais. Acho que aprendi muito sobre mim nesse processo. Eu tô aprendendo muito sobre mim, cada dia mais me tornando minha própria amiga, sabe? Até porque a gente tá em isolamento então eu não estou vendo ninguém. Nós estamos precisando lidar com os nossos próprios demônios. Então cada dia é uma experiência nova”, complementa. A exceção é Par, coproduzida por Pedro Serapicos. 

“Não conseguia muito focar em mim, eu acho que eu sempre trabalhei muito para os outros e tive esse tempo para realmente pegar minhas músicas e falar “cara, vou gravar”. Nem pensava mais nisso, sinceramente. Foi totalmente um tempo de ócio na minha vida, fiquei seis meses sem fazer absolutamente nada, nada, nada, nada, de março até setembro. Em outubro eu resolvi começar a gravar”, conta. Antes do lançamento, a multi instrumentista ainda se via de outros modos, ainda fora dos holofotes da música. “Comecei a me chamar de artista depois disso”. 

Próximos passos

Nas notas milimétricas de P e na suavidade vocal de Paula, há quem ache curto demais o momento de apreciação da obra. A artista, então, garante que existe mais por vir. “Entre meu caderninho, bloco de notas e minha conversa sozinha no Whatsapp, devo ter uns três discos no papel. Estou ansiosa para gravar o próximo logo. Não vou mais parar nunca, eu pretendo continuar nessa rotina maluca de gravação. Escrevo muito, minhas madrugadas são sempre acompanhadas de música, escrever, tocar, durmo com o violão do meu lado”,  encerra ela.

Ouça "P":

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