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Bad Omens, formada por Noah Sebastian (voz), Nicholas Ruffilo (baixo), Joakim “Jolly” Karlsson (guitarra) e Nick Folio (bateria), posa para a câmera, todos estão sérios.

Bad Omens busca sonoridade própria e retrata as aflições da vida atual em seu novo álbum, THE DEATH OF PEACE OF MIND

Publicado porFernando Vinícius

em 07/03/2022

A banda estadunidense de metalcore e nu-metal Bad Omens – originária de Richmond, Virginia – lançou, no dia 25 de fevereiro deste ano, pela Sumerian Records, seu aguardado terceiro álbum de estúdio, chamado THE DEATH OF PEACE OF MIND. Neste lançamento – que foi composto, produzido e finalizado durante o período pandêmico –, a banda aprofunda a mescla de estilos e realiza mais um importante movimento para a construção de sua identidade musical.

O grupo, hoje composto por Noah Sebastian (voz), Nicholas Ruffilo (baixo), Joakim “Jolly” Karlsson (guitarra) e Nick Folio (bateria), iniciou suas atividades em 2015 e, um ano depois, em agosto de 2016, deu à luz seu primeiro álbum, homônimo, Bad Omens, produzido por Will Putney (Upon a Burning Body, The Amity Affliction). Este primeiro trabalho foi muito elogiado pela crítica, mas também apontado como sendo semelhante à sonoridade metalcore e screamo desenvolvida pela banda Bring Me the Horizon na era de seu álbum Sempiternal (2013). À época, a Bad Omens classificou as comparações como “agradáveis, mas frustrantes”. Em 2019, veio o segundo álbum, Finding God Before God Finds Me, que representou um marcante avanço para a banda e alcançou, com algumas de suas faixas, posições expressivas nos rankings musicais dos EUA. Pode-se perceber, nas composições desse trabalho, maior presença de traços próprios da Bad Omens, que passou a produzir músicas mais características, ainda que mantendo claras suas referências e inspirações. Assim, Finding God… expandiu os horizontes tanto musicais quanto midiáticos do grupo.

Então, após alçar voos mais altos, a banda prosseguiu no caminho de firmar sua identidade sonora e mostrar todo o seu potencial artístico. Em novembro de 2021, a Bad Omens lançou, como single, a faixa-título de seu mais recente álbum (THE DEATH OF PEACE OF MIND), para anunciar a vinda deste novo projeto. E, na sequência, vieram mais quatro singles como antecipação do álbum, sendo eles: What do you want from me?, ARTIFICIAL SUICIDE, Like a Villain e The Grey. E, agora, finalmente, THE DEATH OF PEACE OF MIND está disponível na íntegra. O trabalho é composto por 15 faixas, e não possui participações especiais. A produção e engenharia de áudio foram executadas pela própria banda, com auxílio, na fase de mixagem e masterização, do produtor e compositor já indicado ao Grammy Zakk Cervini (Blink-182, Halsey, Poppy).

A proposta discursiva do disco gira em torno de inúmeras conturbações emocionais, que envolvem impossibilidade de realização amorosa, separação, relações tóxicas e viciosas, além da percepção de falência do modo de vida humano atual. O que se vê, no percurso do álbum, é um eu-lírico preso em um vórtice de desilusões e sofrimentos agudos, tentando estabelecer vínculos sem sucesso e se perdendo em suas destrutivas compulsões. A pandemia de COVID-19, inclusive, foi uma das motivações para a escolha do tom e de alguns assuntos presentes nas faixas.

Já musicalmente, percebe-se uma Bad Omens mais consciente e certa de si, longe de se apoiar totalmente em apenas um ponto de referência. Em declaração à imprensa, os integrantes da banda disseram ter sido transformados, como compositores e músicos, ao gravar este disco. E o vocalista contou ter se sentido livre, como artista, por ter tomado decisões sem se preocupar com o que os fãs ou a gravadora esperavam em relação a este trabalho.

A atmosfera instrumental alterna entre riffs pesados e característicos de metalcore e climas mais suaves com marcada presença de sintetizadores e batidas eletrônicas, que trazem a faceta da música industrial para o álbum. O produto das combinações realizadas pela banda caminha por algo que pode ser classificado como metal alternativo com passagens industriais. O vocalista acompanha as mudanças instrumentais, transitando entre um canto sensível e contido, permeado por delicados falsetes, e um canto screamo agressivo e intenso. E essas oscilações na estética vocal se somam às letras para compor o estado de desequilíbrio e perturbação do eu-lírico.

A faixa de abertura do álbum, CONCRETE JUNGLE, serve bem como síntese das características líricas, vocais e instrumentais mais marcantes deste trabalho da Bad Omens (talvez, por isso, tenha sido a escolhida para iniciar o percurso musical). Com vocal delicado, envolto por sintetizadores, a faixa vai ganhando força e massa sonora, até uma brusca ruptura que leva a riffs pesados e gritos violentos de Noah. Usando o clássico termo “selva de pedra”, a letra critica e denuncia o vicioso sistema de exploração capitalista: “Quando o dinheiro fala, você acha que ele se faz entender? [...]/ Eu disse ‘chega’/ Eu implorei e corri em círculos/ Eu subi até o Sol e caí em uma selva de concreto”. A música seguinte, Nowhere To Go, preserva a energia da faixa inicial, mas também agrega mais um elemento à fórmula: o refrão que remete ao pop punk, tanto na inflexão melódica quanto no clima harmônico. Nesta faixa o canto screamo e os riffs clássicos do metalcore são deixados para a ponte. O eu-lírico da canção se vê perdido em uma relação conflituosa, entrelaçado em dúvidas, remorsos e desilusões.

E, desse modo, mantendo o tom bruto e obscuro, o álbum segue, chegando à faixa-título, THE DEATH OF PEACE OF MIND, que ocupa a quarta posição no arranjo sequencial das canções. Nos planos instrumental e vocal, esta música mantém o padrão de movimentos realizados nas faixas já anteriores. O tema base é o rompimento de uma relação amorosa, que leva o eu-lírico a um profundo estado de nostalgia e inquietude mental – por isso o nome da canção: “a morte da paz de espírito”. Além disso, é interessante perceber a construção visual do clipe feito para esta faixa, que possui uma estética retrofuturista e fúnebre, e leva ao extremo a dimensão dos conflitos internos do eu-lírico.

Em termos de estruturação, o trabalho mostra ter sido bem planejado pela banda. Exemplos disso são: a passagem entre a quinta faixa, What It Cost, e a sexta, Like A Villain, visto que a primeira introduz o refrão a ser desenvolvido pela segunda; e, também, a passagem entre a décima faixa, Who are you?, e a décima primeira, Somebody else., em que uma serve como resposta à outra. A consistência de temas e estéticas nas músicas serve, do mesmo modo, como meio de manter admirável coesão no álbum, para que todas as sobreposições de angústias, conflitos e vícios leve à canção final, Miracle, em que o eu-lírico apela, espiritualmente, dizendo que a única coisa capaz de tirá-lo desse turbilhão emocional é um milagre.

Em síntese, ao mergulhar no álbum THE DEATH OF PEACE OF MIND, pode-se perceber considerável evolução e coragem da banda Bad Omens. Com maior maturidade, o grupo está francamente empenhado, nessa nova fase, em encontrar sua própria sonoridade, e apresenta, para isso, composições atraentes e bem estruturadas, que refletem, habilmente, o caos e o frenesi da atualidade.

Faixas em destaque: CONCRETE JUNGLE, Nowhere To Go, THE DEATH OF PEACE OF MIND e Like A Villain.

Ouça THE DEATH OF PEACE OF MIND:

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