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Banda Glass Animals posando.

Publicado porRedação

em 11/04/2022

Texto por Fernando Vinícius e Leonardo Rodrigues

Sem pretensão alguma de atingir o tamanho sucesso que tem atualmente, a banda Glass Animals nasceu em 2010, na cidade de Oxford, na Inglaterra, com o intuito de ser apenas um hobby dos quatro amigos de escola Dave Bayley (vocal), Joe Seaward (bateria), Edmund Irwin-Singer (baixo) e Drew MacFarlane (violão), e traz um grande mix de sonoridades em suas canções, levando o ouvinte do indie à música eletrônica. No mesmo ano, a banda lançou seu primeiro EP, Leaflings, com apenas 4 músicas, totalizando 15 minutos. Este trabalho inicial apresentou de modo categórico o espírito da banda: ritmos suaves, arranjos sofisticados e amplos com forte presença de sintetizadores; a voz doce e instigante de Dave; atmosferas com toque psicodélicos, texturas eletrônicas, mescla de percussões orgânicas e industriais. Com relação aos discursos tecidos, os temas centrais são dilemas íntimos de um eu-lírico que vacila entre a entrega visceral às experiências e a reclusão temerosa; além disso, as letras tratam da ingenuidade da juventude, e da lisergia vinculada ao uso de drogas. São constantes no discurso, também, as imagens e personagens animais, que justificam conceitualmente o nome escolhido pelo grupo.

O primeiro EP da banda foi mais que suficiente para chamar a atenção de Paul Epworth (produtor que já trabalhou com Adele, Florence + The Machine e outros artistas), que os viu tocando em Londres, e decidiu investir no futuro da banda. Em 2013, após lançar o single Black Mambo – que prosseguiu com a estética instrumental e lírica do grupo, isto é, com climas indie-eletrônicos na esfera sonora, e impasses psicológicos desenvolvidos em animais-personagens na esfera lírica – o quarteto entrega outro EP, dessa vez homônimo: “Glass Animals”, também com 4 faixas e um total de 15 minutos. 

Em 2014, o produtor inglês Paul Epworth convidou o grupo de amigos para seu novo projeto, a gravadora Wolf Tone, onde gravaram seu primeiro álbum, ZABA. O disco possui 11 faixas, nas quais a banda explicita sua versatilidade e dinamismo: ao longo de discursos metafóricos e fragmentários, que atravessam angústias, desejos e delicadas reflexões, o grupo caminha por harmonias jazzísticas, beats de hip-hop e atmosferas pop e indie. Este trabalho recebeu diversas críticas positivas e também foi destaque no Spotify e na Apple Music, com mais de 7 milhões de ouvintes. O sucesso do álbum – em especial, das faixas Gooey e Black Mambo – resultou na decisão da banda de lançar duas versões de luxo do disco. Ao se apresentar em programas de TV famosos, o quarteto deu um importante passo em sua busca por reconhecimento, e em 2015, um ano após a estreia de ZABA, realizou uma turnê com mais de 130 shows, que resultou em diversos ingressos esgotados e grande reconhecimento à banda.

Após o sucesso de ZABA, a banda trouxe o disco How To Be A Human Being, em 2016, álbum que trouxe sonoridade mista, tendo presente o indie, rock, eletrônico e psicodélico. How To Be A Human Being tem todas as suas letras inspiradas em histórias que o vocalista, Dave, escutou enquanto estava em turnê, transformando todas em composições para o segundo álbum da banda. A capa do disco faz alusão a todas essas pessoas que compartilharam suas experiências. As histórias contadas em Life Itself e em Youth possuem conexão em suas letras, como se apresentassem pontos de vista diferentes de uma mesma situação. ‘Papai era burro, disse que eu seria algo especial / me fez resistente, mas eu era um ser humano delicado / disse que amava cada uma das minhas milhões de sardas, quando eu crescesse, seria uma estrela’, diz trecho da faixa Life Itself. E ‘Garoto, quando te deixei, você era jovem, eu tinha ido embora, mas meu amor não / você estava claramente destinado para mais do que uma vida perdida na guerra.’, em Youth.

O segundo disco da banda também trouxe diversos videoclipes, entre eles Pork Soda, Season 2 Episode 3 e Agnes. Mas o destaque é o clipe de Agnes, o qual, segundo o vocalista, teve o processo de gravação mais intenso. Isso se deve à produção repleta de adrenalina que o clipe teve, pois foi gravado dentro de uma centrífuga humana. Dave associa o sentimento de luto com a claustrofobia de estar dentro da máquina. A centrífuga foi ligada 18 vezes, e, enquanto girava, o vocalista tentava cantar junto a música. Ao se comparar com o primeiro álbum, ZABA, How To Be A Human Being possui composições mais realistas e menos abstratas e imaginativas, é bastante “pé no chão”.

O terceiro disco da banda foi lançado em 2020. Dreamland é um disco que remete o ouvinte à infância, e está repleto de elementos que causam a sensação de nostalgia. Discos de vinil, fitas VHS, Street Fighter e Pokémon estão presentes no álbum, e colaboram na alusão ao passado proposta pela banda. “Esse álbum é sobre crescer, desde minhas primeiras memórias como uma criança, até agora. É sobre perceber que está tudo bem em não ter as respostas, está tudo bem em não saber exatamente como você se sente, e está tudo bem ser e parecer vulnerável”, disse Dave Bayley em um post de apresentação do álbum nas redes sociais. 

Apesar do esforço da banda, Dreamland recebeu diversas críticas negativas, a maioria delas apontavam o trabalho como “confuso” e “incoerente”. Mas, mesmo com duras críticas ao disco, a faixa Heat Waves fez sucesso, e após 2 anos de seu lançamento, a canção alcançou o top 1 da Billboard Top 100, quebrando o recorde de música que mais levou tempo para chegar ao topo do principal chart de singles da Billboard. O recorde era mantido por Mariah Carey, com o single All I Want For Christmas Is You, que levou 35 semanas para atingir o lugar mais alto do ranking. Dave diz que o sucesso da música se deve à sua relação com a nostalgia e o passado, com a lembrança de pessoas que não podemos mais ver. O vocalista conta que nos últimos dois anos, e ainda agora, as pessoas sentiram e ainda sentem falta de seus entes queridos, e nem todos podem visitar seus pais ou seus melhores amigos.

Resumidamente, Glass Animals demonstra ter facilidade em criar música, seja ela qual for. A banda transita entre indie e psicodélico, utiliza elementos da música eletrônica, experimenta um pouco de rock e, em alguns momentos, flerta com o rap. É uma banda com estilo fluido, que se mostra flexível na questão sonoridade e, sem perder sua essência, sempre se redescobre e se reinventa, mostrando estar preparada para novos trabalhos completamente diferentes.

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