Lindie

Logo Lindie
Foto: Divulgação/Alice Baxley

Publicado porMariana Luiza

em 02/02/2024

Para o bem ou para o mal, é possível entrar em consenso de que não há nada como escutar pela primeira vez o novo álbum de um artista que você ama. O trio Green Day, formado por Billie Joe Armstrong (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria), sabe muito bem como é dar esse gostinho aos seus fãs. E foi o que eles fizeram na segunda quinzena de janeiro deste ano com o lançamento de seu mais novo trabalho, Saviors.

Décimo-quarto álbum de estúdio do grupo estadunidense, Saviors é um compilado de quinze músicas, totalizando pouco mais de 45 minutos, que vem, desde o ano passado, agitando todos que aguardavam novas canções da banda. Em outubro de 2023, The American Dream is Killing Me foi revelada em formato de single como a primeira música do álbum. Os meses seguintes também foram seguidos por novas revelações: Look Ma, No Brains!, em novembro, Dilemma, em dezembro e One Eyed Bastard, no início de janeiro.

E assim, as intenções da banda sobre o conceito do novo álbum, que iam aos poucos se delineando através do lançamento de cada um dos singles, se tornaram ainda mais palpáveis quando todo o projeto foi finalmente disponibilizado. 


Capa de Saviors, Green Day — Foto: Reprise Records/DivulgaçãoCapa de Saviors, Green Day — Foto: Reprise Records/Divulgação

Ao começar pela capa, em que a banda traz uma reprodução do trabalho do fotógrafo britânico Chris Steele-Perkins, realizado durante um protesto ocorrido na Irlanda do Norte, em 1978. A imagem apresenta um garoto segurando uma pedra em frente a um bloqueio de ruas em chamas.

Apesar de na arte da banda algumas características físicas do rosto do garoto terem sido editadas digitalmente, percebe-se que sua expressão original foi mantida, assim como o teor de insatisfação e espirituosidade que a foto de Steele-Perkins carrega.


“Youth with a stone during a riot at the top of Leeson Street” (Jovem com uma pedra durante uma revolta no topo da Rua Leeson), 1978. — Foto: © Chris Steele-Perkins/Magnum Photos“Youth with a stone during a riot at the top of Leeson Street” (Jovem com uma pedra durante uma revolta no topo da Rua Leeson), 1978. — Foto: © Chris Steele-Perkins/Magnum Photos

E como numa exata representação do álbum em si, a imagem dá espaço a uma sonoridade agressiva e em tom de protesto que abre o novo trabalho do Green Day da melhor maneira: a canção The American Dream is Killing Me

Comparada ao conceito de American Idiot (2004), um de seus álbuns anteriores mais aclamados, a faixa inicial de Saviors, apesar de novamente sugerir ao ouvinte uma experiência sonora muito particular, não se trata de uma autoparódia de algo que um dia a banda já criticou, mas de um descontentamento com o momento presente.


Em entrevista para a Rolling Stone, o baixista Mike Dirnt explica que o conceito da canção vai muito além de um levante contra um ex-presidente controverso, mas “reflete o fato de que o pai do Billie era um motorista de caminhão sindicalizado, e sua mãe era uma garçonete, e, de alguma forma, eles conseguiram sustentar cinco filhos e comprar uma casa, o que simplesmente não funciona mais para todo mundo hoje em dia.”

Living in the ‘20s é outra canção presente em Saviors que exibe críticas ao momento atual em que o mundo, mais especificamente, os Estados Unidos, se encontram: “Outro tiroteio em supermercado/Gastei meu dinheiro em um alvo vulnerável e sangrento/[...] Parabéns, boa sorte e bênçãos/Nós estamos todos juntos e estamos vivendo os anos 20/”.

Mas, apesar dos temas atualizados, a fórmula do sucesso do Green Day se mantém a mesma. Sem moderação, a banda utiliza-a para atrair para si um público mais jovem e, ao mesmo tempo, manter por perto os fãs mais antigos. O frescor de um sentimento de juventude eterna permeia grande parte das canções do grupo. Bobby Sox e 1981 transmitem uma energia gostosa de romance leve e jovem, como em um filme da Sessão da Tarde. Já a homônima Saviors, Coma City e Strange Days Are Here to Stay são ótimas pedidas para aqueles que curtem os álbuns iniciais do grupo.

Como um espetáculo à parte, Dilemma é um dos grandes destaques do novo trabalho da banda. A composição trata-se de um passeio bem íntimo através da batalha travada pelo vocalista contra seus vícios: “Bem-vindo ao meu pesadelo/Onde os sonhos desaparecem/Sentado em uma clínica de reabilitação/Me sentindo como um rato de laboratório/Os dias estranhos voltaram/E tudo está ficando mais estranho/Um brinde a todos os meus problemas/Eu só quero um gole de veneno”.

Já o videoclipe oferece uma experiência envolvente, convidando-nos a uma noite na pele de Billie Joe. Alterna entre diferentes situações e perspectivas, enquanto revisita vivências que, segundo a letra, o fazem chegar perto de ser um “homem morto caminhando”. 

Como um sucessor do controverso Father of All Motherfuckers (2020), Saviors parece trazer de volta uma energia que tornou o Green Day essa “força da natureza” que todos conhecemos. Provavelmente não será um dos álbuns prediletos do público, mas chega para provar que a banda segue, década após década, conquistando seu espaço e ainda tem muito a dizer!

Ouça Saviors:


Compartilhe nas redes sociais:

Você também pode gostar

Logo Lindie

Abra sua mente para novos sons.

© 2020 Lindie. Todos os direitos reservados