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Marcelo D2 (voz principal) e BNegão (voz principal) no show da Planet Hemp no Encontro das Tribos

Publicado porFernando Vinícius

em 15/05/2023

Este ano, o Encontro das Tribos Circus, que reúne artistas do reggae, rap e rock, teve dois dias de atrações, os dias 6 e 7 de maio (sábado e domingo). A icônica banda Planet Hemp estava, a princípio, escalada para tocar no segundo dia do evento, no palco 02.

No entanto, o cancelamento repentino e inesperado da cantora Pitty, que era outra atração do mesmo dia, além de frustrar seus fãs, fez com que todas as atrações do dia fossem realocadas de palco, em uma tentativa de não atrapalhar muito a logística das apresentações.

Essa surpresa desagradou também pelo fato de que muitos pagantes da pista tinham visão apenas do palco 01 e esperavam ver artistas que acabaram fazendo seus shows no palco 02. Mas, ainda assim, a realocação de atrações serviu para dar ao Planet Hemp o palco que — como ficou claro depois do show — deveria ser seu desde o início: o palco principal do evento.

Marcelo D2 (voz principal) e BNegão (voz principal) agitaram o público no Encontro das TribosMarcelo D2 (voz principal) e BNegão (voz principal) agitaram o público no Encontro das Tribos / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Então, poucos minutos depois das 17h40, Marcelo D2 (voz principal), BNegão (voz principal), Formigão (baixo), Pedro Garcia (bateria), Nobru (guitarra) e Pedro Guinu (teclado) vieram como uma onda que quebrou no palco e tomou o público, elevando a euforia da plateia lotada a um nível que pouquíssimos artistas conseguiram durante todo o Encontro das Tribos Circus.

O Planet Hemp iniciou energicamente o show com a faixa DISTOPIA, de seu álbum mais recente, JARDINEIROS (2022) — álbum, este, que é o primeiro material com músicas inéditas lançado pela banda em 23 anos, desde A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000). Rasgando linhas sobre o caos sociopolítico brasileiro, D2 e BNegão deram o tom do rap-rock crítico e cativante do grupo.

Em seguida, veio outra música do mesmo disco, chamada TACA FOGO. Todos os títulos das faixas desse trabalho são escritos em caixa alta, como gritos de indignação e luta que tecem os discursos da banda. É compreensível, inclusive, que o Planet Hemp, conhecido por seu engajamento político, lance um disco de inéditas logo após quatro anos obscuros na política brasileira (e que ainda ecoam no cotidiano do povo). É isso que são as inéditas: gritos no presente, berros que denunciam a insustentabilidade de um sistema criminoso.

Planet Hemp fez o público do Encontro das Tribos se soltarPlanet Hemp fez o público do Encontro das Tribos se soltar / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Mas, é claro, a energia e o grito não estão reservados ao trabalho mais recente do Planet Hemp, estando presentes também na música que deu sequência ao show: Dig Dig Dig (Hempa), do álbum Usuário (1995), que discute preconceitos e estigmas relacionados à maconha. Depois, veio outra faixa de JARDINEIROS, intitulada FIM DO FIM.

E, conforme as canções seguiam — carregadas por riffs marcantes de baixo de Formigão, o virtuosismo de Nobru e sua guitarra, e o vigor singular de D2 e BNegão — a animação do público crescia. As muitas rodas de conversa formadas pelo público durante outras atrações do evento, um tanto indiferentes a quem se apresentava, se converteram em gigantes rodas de bate-cabeça, (quase) totalmente envolvidas pela energia do Planet Hemp. E essa energia cresceu com a chegada do som 100% Hardcore, do álbum Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára (1997).

Como verdadeiros maestros da cultura punk rock, D2 e BNegão conduziam seu público, fazendo-o abrir uma imensa roda de bate-cabeça e girar em torno dela, como é comum antes de a catarse dessa “violência controlada” se consumar. Para conduzir essas “giras”, os vocalistas entoaram um trecho da canção Deixa a gira girá, do histórico trio Os Tincoãs, que, à época do lançamento dessa faixa, era composto por Mateus Aleluia, Heraldo Bozas e Grinaldo Salustiano, o Dadinho. O Planet Hemp citava: “Saravá, Iansã/ É Xangô e Iemanjá, iê/ Deixa a gira girar”.

O show seguiu, então, com as músicas Deisdazseis, Legalize Já (ambas do álbum Usuário) e Zerovinteum (Os Cães…), mantendo sua potência e levando o público a uma euforia crescente, ainda que alguns grupos mantivessem suas conversas e ficassem ainda de costas para o palco. A atitude predominante era de entrega aos músicos que despejavam toda sua intensidade no palco.

O show da Planet Hemp uniu todas as tribos presentes no Anhembi O show da Planet Hemp uniu todas as tribos presentes no Anhembi / Foto: Mariana Luiza/Lindie

O setlist se encaminhou para o single mais recente do grupo, O RITMO E A RAIVA, que conta com participação do espetacular Black Alien, que integrou o Planet Hemp de 1997 a 2001. Nesse momento, houve projeções de Black no telão central e o rapper foi homenageado por D2 e BNegão.

A homenagem foi seguida de outra, feita ao Mr. Catra, quando BNegão puxou frases de Cadê o isqueiro? para introduzir a música Quem Tem Seda. A referência provocou uma bonita cena em que inúmeros isqueiros acesos pelo público brilharam através da noite do Encontro das Tribos. E, aos poucos, as cabeças que ainda não haviam se interessado pelo show visceral do Planet Hemp, iam virando em direção ao palco, para testemunhar o poder desse grupo que carrega o gosto e a cara de toda uma geração da música brasileira. Até mesmo os seguranças e bombeiros do evento podiam ser vistos cantando com propriedade as letras da banda, ainda que (esses, sim) fossem obrigados a permanecer de costas para o palco.

O setlist, longo e recheado de sucessos, ainda contou com mais algumas faixas de JARDINEIROS e Os Cães…, antes de chegar a mais uma bela homenagem a Chico Science, Chorão e Nação Zumbi, quando a banda tocou Samba Makossa, relembrando a parceria entre D2 e Chorão ao cantarem essa música no clássico Acústico MTV do Charlie Brown Jr. Marcelo D2 fez questão de mandar um salve para, como ele mesmo diz, “os verdadeiros arquitetos da música brasileira”, tornando a apresentação ao mesmo tempo nostálgica e repleta de novidades.

Enquanto a noite chegava, quase todo mundo aguardava a banda chegarEnquanto a noite chegava, quase todo mundo aguardava a banda chegar / Foto: Mariana Luiza; Lindie

O encerramento da apresentação foi feito com as músicas A Culpa é de Quem e Mantenha o Respeito, ambas do disco Usuário. E, ao fim do show, o Planet Hemp, que é rock e rap, passo e futuro, mostrou o real significado de encontro das tribos, ao transformar o público em um caldeirão, exaltar figuras inestimáveis da música brasileira e, obviamente, mostrar todo seu talento e potência para cantar as verdades indigestas do Brasil contraditório, sempre enaltecendo também a força do povo brasileiro para resistir em meio ao caos.

Ouça Planet Hemp:

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