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Foto tirada em um show, com as mãos do público para cima e as luzes acima

Publicado porLuisa Pereira

em 19/08/2021

Você se lembra da sensação de ir a um show musical? A análise dos documentos na entrada, onde era possível já ouvir os barulhos, ainda que abafados, dentro do local. A entrada e o caminho até a pista, de frente para o palco. Quem chegasse cedo, podia conferir a arrumação dos instrumentos, antes da entrada dos artistas e garantir um lugar na grade. Ao abaixar as luzes, o show ia começar.

Há mais de um ano e meio, o público brasileiro não vive essa sensação, comum para quem marcava presença frequentemente em concertos, fossem eles em estádios ou casas de shows maiores, com artistas internacionais, ou os shows menores, que fomentavam a cena independente brasileira. Em março de 2020, quando as coisas começaram a ficar incertas com a eclosão da pandemia, o país vivia um de seus principais ápices neste setor. Artistas de outros lugares com vontade de vir ao Brasil e bandas brasileiras estavam ascendendo.

A Agência Pindorama, responsável pelo Bloco Emo, um movimento que, além do bloco carnavalesco, uniu a tribo em diversos eventos e baladas ao longo dos últimos anos, vivia um de seus melhores momentos, com Esteban Tavares e Zimbra fazendo, em média, 60 shows por ano cada um. “A gente estava conseguindo fazer as bandas tocarem de Porto Alegre a Manaus, passando por cidades menores como Juazeiro do Norte e Caxias do Sul. Tínhamos também várias surpresas, como quando a Zimbra colocou 500 pessoas em Juazeiro do Norte, uma coisa que não esperávamos quando nos chamaram, e todas cantando enlouquecidamente”, conta Ronaldo Tagashira Junior, um dos fundadores da agência. “Quando a pandemia começou, tínhamos 35 shows marcados e precisamos cancelar um por um. No início achamos que seria por três meses, depois por seis e, então, acordamos e percebemos que não iria passar tão cedo”, completa.

E, quase dois anos depois, ainda não voltou. Com a remarcação e cancelamento de shows, o setor se viu em meio a um de seus momentos mais conturbados. Para além da frustração dos fãs que nutriam a expectativa de ver os ídolos, a pandemia também atingiu os trabalhadores da área - assim como quaisquer outros. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgada sobre o setor cultural, em 2018, havia mais de 5 milhões de pessoas empregadas nesta área, representando 5,7% do total de ocupados no país. A análise também explicitou que, entre 2014 e 2018, houve redução na proporção de empregados com carteira assinada (de 45,0% para 34,6%) e aumento dos trabalhadores por conta própria (de 32,5% para 44,0%) no ramo cultural. 

A volta em outros países

Em outros países, que iniciaram a vacinação em massa mais cedo e adotaram planos de contingência mais rígidos, com o lockdown, a retomada aconteceu há alguns meses. Nos Estados Unidos, o Madison Square Garden, complexo de arenas esportivas localizado em Nova York, abriu suas portas com 100% de sua capacidade em junho, quando a banda americana Foo Fighters tocou no local. Na entrada, o público precisou comprovar o esquema vacinal completo com as duas doses. Entre os adultos, o uso de máscaras não foi obrigatório, levando em consideração o andamento da imunização. No entanto, para os adolescentes maiores de 16 anos, limite de idade para a entrada, o uso era essencial, além de um teste negativo recente para a doença.

Três meses antes, em março, houve um evento teste em Barcelona, na Espanha, com cinco mil pessoas. Na entrada, todas precisaram realizar o exame de Covid-19 de antígenos - que detecta o vírus por meio de proteínas específicas, mas sem o intervalo de tempo que o PCR necessita - e utilizar máscaras durante todo o evento, mas o distanciamento não foi necessário.

Retomada no Brasil

Na capital paulista, onde a cena independente era fomentada com força, a volta do público em shows está prevista para iniciar em 1° de novembro, de acordo com a secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado, Patricia Ellen. O uso de máscaras seguirá obrigatório, mas nenhuma outra diretriz foi apresentada até o momento.

Para a Agência Pindorama, o retorno deve ocorrer em dezembro, com mesas e cadeiras, distanciamento, higienização, máscaras e entrada apenas de vacinados. “Teremos seguranças controlando a circulação, acesso aos banheiros e fumódromo para não deixar ninguém circular por muitos espaços ao mesmo tempo. A ideia também é ter eventos mais curtos para que as pessoas não precisem ficar concentradas no local por muito tempo”, explica Ronaldo. “É um teste, se der tudo certo e os números não aumentarem, ficaremos uns meses com esse formato com mesa e cadeira ou teatro para ter certeza que não estaremos prejudicando ninguém”, encerra.

Um recente levantamento da Abrape – Associação Brasileira dos Promotores de Eventos – aponta que a intenção de voltar a comparecer a eventos volta a subir e atinge sua maior média histórica, desde julho de 2020, com 63%, somando os 32% que iriam sem medo aos eventos, com os 31% que, ainda que fossem, se sentiriam receosos. Dentro desse grupo, 51% manifestaram interesse em frequentar shows, frente a 46% da edição anterior, em junho. Para casas noturnas o público é mais resistente, com 44% de intenção - no mês anterior, eram 37%. Cinema e Teatro (78%), Feiras e Exposições (73%), Palestras e Congressos (69%) e Eventos Esportivos (67%) possuem aderência maior dos respondentes. 

Cenário no país e pontos de análise

Ainda que a vacinação seja um dos pilares para a retomada dos eventos, há preocupação na área científica justamente pela falta de expectativa na detecção de possíveis infecções no momento do evento e, se necessário, o acompanhamento e isolamento das pessoas participantes. Além, é claro, do não uso das máscaras e da falha em manter o distanciamento.

Outro ponto a ser analisado é o contágio de pessoas vacinadas, assim como a transmissão. Segundo o monitoramento do Imperial College de Londres, no Reino Unido, a taxa de transmissão do coronavírus no Brasil está em 0,98, o que significa que cada grupo de 100 pacientes com o vírus infecta outras 98 pessoas. Ainda que o indicativo esteja abaixo de 1 pela 8ª semana consecutiva, a taxa aumentou em relação a semana passada, quando estava em 0,90. Desde julho o país não registra uma média abaixo de 0,9, quando alcançou 0,88.

Deste modo, a pandemia ainda é considerada descontrolada no país. A recomendação geral é manter os cuidados já adotados mesmo após a segunda dose da vacina e, assim, se manter mais seguro.

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