O talento com as palavras é parte da arte de Vítor Guima. Desde o seu primeiro trabalho, O Estrangeiro (2019), o artista tem sido apontado como uma das revelações mais promissoras da MPB. O material soma mais de 270 mil plays no Spotify e seus videoclipes no YouTube ultrapassam meio milhão de views. É neste cenário que o cantor e compositor traz ao mundo o seu segundo álbum, Canções Para Beatriz, lançado nesta sexta-feira (7) pelo selo Baila Records, liderado pela também cantora Clara Valverde.
Gravado durante a pandemia em home studios, Canções Para Beatriz transita entre a bossa nova, o folk e o rock. Mesmo com a mescla de estilos, o disco não perde o toque de brasilidade que carrega consigo. Mais que a diversidade sonora presente no material, o compositor apresenta na dose certa sua outra faceta: o dom com as palavras. Condensado em nove faixas, o disco conta a história de um breve relacionamento, do início avassalador aos aprendizados com o seu término.
A capa minimalista foi feita pela artista alemã Iris Schomaker que, ao invés de pedir um pagamento para que sua obra fosse utilizada na capa do álbum, pediu que o valor fosse doado. Voluntário da APAE-Araras há mais de 15 anos, Guima destinou 30% dos custos que o álbum teria com estúdio para a instituição. “Foi um posicionamento absolutamente generoso por parte da pintora, uma atitude incrível dela”, comenta o cantor.
O começo, meio, fim e créditos finais de Vítor Guima
O ponto de partida de Canções Para Beatriz é Ti, marcada pelo folk e violão e consolidando o início da relação, o momento de encontro entre os personagens. A faixa funciona como uma introdução acústica para o restante do disco. “Sinto que deixei tudo para não ter mais ninguém além de ti”.
A história segue com As Horas, com uma pegada samba rock, os trompetes de Paulinho Viveiro dão charme à composição, onde o eu lírico se vê ansioso para o encontro com a amada. A mesma sonoridade pode ser notada em Beatriz, faixa seguinte, agora com destaque para a guitarra de Diego Figueiredo. Neste momento, o ouvinte é apresentado à musa do álbum e à relação intensa e instável que o casal mantinha. A canção nasceu de uma parceria de Guima com o poeta Paulo César Carvalho, sendo a única composição em conjunto do projeto.
Abraços partidos conta as idas e vindas da relação que, apesar da intensidade, não consegue se firmar. Com a introdução mais marcante, a sonoridade embala a narrativa com os saxofones de Hugo Hori e Márcio Meliscki e do piano digital de Erik Escobar. “Abraços partidos, um gole de escuridão, contando garrafas e aviões. Beijos proibidos de se juntar pelo ar feito aço na imensidão, enquanto o tempo vai guiando meus passos sem direção”.
Em seguida, Guima segue na mesma etapa do relacionamento em Até depois. No entanto, a faixa conta com uma estrutura narrativa mais bela e traz mais detalhes da relação.“Enquanto os pêndulos erravam previsões, o medo sempre escrevia as minhas cartas e pelos olhos eu dizia: até depois”.
Em tom melancólico, O fim marca o término do namoro com um som fúnebre dos violinos de Aramís Rocha e Robson Rocha, que trazem um tom único para o álbum e marcam a ruptura entre as demais sonoridades apresentadas. “O verso acaba, sorriso desaba e o que sobra são as imagens do último jantar, do último olhar. Deitar, dormir, sentir você no seu último segundo perto de mim”.
O tom dado pela canção logo é deixado para trás em O Passeio do Sol. Com uma sonoridade mais alegre, beirando o samba raiz, a canção marca a tentativa de superação do eu-lírico. “Me reinventar, mesmo que já não encontre o sol em nenhum lugar”.
A reprise de Ti funciona quase como um interlúdio curto e como uma mudança de ares na história que, depois de ser encerrada, é superada em Eu Tentava Tanto, uma mescla de indie e folk somados a beats flertando com elementos do pop.
Em nove faixas Guima consegue condensar o melhor de suas influências e usar com equilíbrio a diversidade de elementos sonoros, além de um fluxo narrativo cativante.
Canções Para Beatriz contou com o trabalho dos músicos: Diego Figueiredo, na guitarra; Erik Escobar, no piano digital; Maestro Tiquinho, no trombone & arranjo para naipe de metais; Paulinho Viveiro, no trompete; Hugo Hori e Márcio Meliscki, nos saxofones; Maguinho Alcântara, na bateria; Ronaldo de Oliveira, no arranjo para quarteto de cordas; Aramís Rocha e Robson Rocha, nos violinos; Deni Feijó, no violoncelo; Daniel Silva, na viola; além de Eduardo Kusdra, na produção e arranjo.
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