Os vocais bem trabalhados, as referências líricas fortes e vulneráveis e os instrumentais elaborados em um misto de jazz e R&B mostram o empenho de um artista completo e talentoso. O som maduro de seu lançamento recente, o EP 'Bright Lights, Red Eyes' enganam quanto à idade do cantor, que acaba de completar 18 anos e já acumula sucessos desde 2017, quando tinha 15.
Ruel Vincent Van Dijk, ou simplesmente “Ruel”, é um cantor e compositor nascido em Londres, em 2002. Filho de pai holandês e mãe britânica, mudou-se para Sydney em 2006, onde cresceu. Entre uma entrevista de divulgação do novo trabalho e outra, Ruel visita sua primeira lembrança musical, aos 4 anos: a sensação ao ouvir a música 'The Letter', de James Morrison.
Desde o pequeno Ruel escutando canções até sua versão nem um pouco pequena - afinal, o garoto tem quase dois metros de altura - atual, ele não parou de tentar encontrar sentimentos nas melodias. Hoje, ao invés de apenas recebê-los, ele é quem os compõe. A maioria de suas inspirações líricas provém da vida real. Exemplos disso são Unsaid, escrita após a morte de um de seus amigos, e Hard Sometimes, que lhe rendeu copiosas lágrimas no estúdio enquanto era produzida, juntamente com o músico e compositor Wrabel em Laurel Canyon.
“Eu definitivamente não estou escrevendo para meninas adolescentes. Escrevo para mim mesmo e tento torná-lo compreensível para o maior número possível de pessoas. Esse é realmente o meu principal objetivo, encontrar experiências, se são pessoais ou não pessoais, apenas vejo se posso fazer isso ter a ver com pessoas de 50 ou 15 anos”, afirmou em entrevista ao The Face.
E deu certo. Atualmente, o cantor conta com mais de 180 milhões de visualizações no Youtube e mais de 8 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
O início de um sonho
Sempre incentivado pela família, Ruel começou a cantar e tocar guitarra aos 8 anos. Anos mais tarde, quando o garoto tinha 12, seu pai, executivo de publicidade, conseguiu fazer com que sua demo cantando "Let It Go", de James Bay, chegasse à M-Phazes - produtor famoso por ter vencido diversos Grammys -, que se tornou o mentor do jovem talento.
O single de estreia de Ruel, Golden Years, foi feito em parceria com M-Phazes. O lançamento ajudou a jogar luz sobre o jovem cantor, que chegou a ser disputado entre algumas gravadoras americanas. No fim, ele assinou contrato com a RCA Records, produtores de artistas como Justin Timberlake e Shakira.
Mas foi em Don't Tell Me que ele brilhou. Alcançando a posição 86 no ARIA Charts - parada oficial de discos australiana -, o single foi tocado por Elton John na BBC Radio 1. “A voz mais incrível que eu já ouvi de um cantor de 14 anos”, afirmou ao ouvir.
Em seguida vieram mais três músicas: Dazed & Confused, Younger e Not Thinkin' Bout You, que, juntamente com Don't Tell Me compõem o primeiro EP de Ruel, intitulado ‘Ready’. A mescla entre músicas que passeavam próximas ao Indie, Blues e um leve toque eletrônico, com faixas ao estilo baladas em piano, com letras mais sombrias formaram sua marca registrada. A soma pode ser ouvida também em seu segundo EP ‘Free Time’, lançado em 2019. Nele, é justamente nas composições mais leves onde sua voz ganha mais espaço para brilhar, como em Painkiller e Face To Face.
Seu terceiro EP, o recém-lançado 'Bright Lights, Red Eyes' segue o mesmo caminho. Ainda assim, traz elementos diferenciados e convergentes às novas referências musicais, como o soul dos anos 60 em As Long As You Care, faixa single do material. Sobre o trabalho como um todo, ele explica as influências dos períodos de turnê, com muitos holofotes, longos voos e a impossibilidade de ver todas aos fãs. Em As Long As You Care, ele canta o trecho: “Sinto muito, mas meu cérebro está frito / não vi seu rosto em milhas e milhas...”, como um pedido de desculpas e agradecimento aos fãs que o acompanham nesta rotina.
Distance, Courage, Up To Something e Say It Over (em parceria com o cantor norte-americano Cautious Clay) completam a coletânea de 5 músicas.
Premiações
Já nos primeiros singles a indústria australiana voltou os olhares para o adolescente. Seu primeiro EP ‘Ready’ ganhou certificado de ouro ARIA Charts pela faixa Younger em junho de 2018. No mesmo ano, ganhou o prêmio de Artista Revelação no ARIA Music Awards - premiação musical realizada todos os anos pela Australian Record Industry Association -, tornando-se o mais jovem a ser indicado e ganhar a categoria, aos 16 anos.
Também já ganhou estatuetas no MTV Europe Music Awards por Melhor ator australiano e no Kids' Choice Awards por Australiano/Neozelandês favorito. Esse ano, ele foi indicado a outras quatro categorias do ARIA, duas em particulares para ele: Melhor artista Masculino e Música do ano; e duas para sua equipe: Producer of the Year e Engineer of the Year.
Há ainda a indicado ao UK Music Awards na categoria Best Lockdown Video por Empty Love, parceria com a cantora GRACEY.
Frustração com a pandemia
No início do ano, Ruel planejava o lançamento de seu primeiro álbum e de uma turnê maior, com a chance de visitar locais desconhecidos ainda. O plano seria embarcar para Los Angeles, onde faria as composições, gravações e produções. Mas 2020 não se apresentou promissor depois de março. Frustrado, o cantor gostaria de dar algo que os fãs pudessem aproveitar ao longo do ano. Assim nasceu a ideia do RuelVision, transmissões ao vivo de esquetes com game shows, simulações de noticiários, entrevistas, entre outras encenações feitas por ele.
Quando tornou-se ainda mais claro que não seria possível retornar à Los Angeles para produzir o disco, Ruel e sua equipe conseguiram reunir canções escritas um ano antes, em Paris, para compor um novo EP. As composições foram feitas junto com Sarah Aarons. “Estou muito feliz que essas músicas estejam juntas e tenham a chance de brilhar em seu próprio pacote parisiense”, contou em entrevista ao portal NME.
Ruel é modesto quanto à classificação de seu futuro na indústria de massa, porém, para ele, uma coisa é certa: quer continuar fazendo música.
* As informações sobre premiações contaram com o apoio do portal Ruel Nation Brasil.