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Da esquerda para a direita: Tiago (Tety), Guilherme (Guilf), Ian, Gustavo e Renan.

Publicado porRedação

em 05/03/2022

Texto por Gabriela de Oliveira e Luisa Pereira

Em atividade desde o final de 2013, a banda mineira Contratempo nem sempre foi encarada tão seriamente como agora. Nascida como um tributo ao Iron Maiden, o tempo foi capaz de alterar os caminhos que seriam percorridos em outras épocas. Após duas mudanças na formação e o sonho de participar da produção de rock nacional, quem hoje carrega os desafios e sonha com o futuro do grupo são Ian Sad (voz e guitarra), Guilherme Flauzino, o Guilf (baixo e voz) Renan Silva (guitarra), Gustavo Coutinho (teclado) e Tiago Gasparetto, o Tety (bateria).

A mudança dos integrantes precisou ser feita no meio da pandemia, quando todos os processos e planos para o futuro eram incertos. A entrada de Renan e Tety foram decisões que ultrapassam o campo profissional. A parceria na vida e química musical foram colocadas à prova por Ian, Guilf e Gustavo. “Além de serem excelentes músicos, também pensamos assim ‘Cara, são pessoas que a gente gosta, então eles vão somar muito bem’. E dito e feito! Somaram muito bem. A gente ensaia junto, a gente bebe junto, a gente troca ideia, essas coisas… Não é só aquele negócio: entrou, ensaio e foi embora”, conta Guilf em entrevista ao Lindie

O público conseguiu ter o primeiro vislumbre da renovação e parceria da Contratempo com o single In Cendio, lançado em agosto de 2021. Sonoramente mais pesada que o trabalho apresentado no EP Atemporal (2018), a faixa já era cantada ao vivo antes de todas as mudanças ocorridas na banda - e do início da pandemia. Com o retrospecto da reação do público já consolidado anteriormente, os músicos conseguiram unir seus novos repertórios técnicos à canção. 

“A In Cendio já vem com uma maturidade bem diferente das músicas do EP. A gente já quis voltar logo lançando ela para realmente mostrar essa identidade nova, essa formação e essa característica nova da banda. Eu acho que foi muito por isso, sabe, pelo tempo também. Por mais que a gente tenha lançado ela agora, ela ficou por um tempo na nossa mão. Conseguimos trabalhar bastante nela, pensar em esquematizar a métrica, cortar algumas partes”, explica Gustavo.

Meses depois, a banda chega com Chuvas de Janeiro, lançada nesta sexta-feira, 04 de março.

Contratempo pede passagem na estrada do rock nacional

LINDIE: Com essa nova formação, vocês sentem que estão mais focados, mais “profissionais”... Como vocês estão se sentindo com isso? Acham que vão tocar a banda de uma forma diferente? 

Ian: Estamos criando uma nova identidade musical com essa troca de integrantes, porque os novos integrantes que entraram, chegaram com outras referências. Nós já tínhamos as nossas, nós já tínhamos uma coisa preestabelecida e com isso está sendo tudo um pouco mutável, sabe? 

Gustavo: É um processo de readaptação. 

Ian: Exatamente. E isso envolve também o som, a química…

Guilf: E acaba que, assim, nós temos uma diferença técnica muito grande entre o ex-baterista e o ex-guitarrista para os que estão agora, só que não necessariamente é algo ruim, pelo contrário. Como o Ian falou, estamos nos adequando a essa formação atual. E claro, além da questão musical, nós sempre buscamos estar com gente que a gente gosta de verdade. Não é porque estamos numa banda e temos esse compromisso que vamos trabalhar com qualquer um. Nós chegamos à conclusão de que temos que trabalhar com quem a gente gosta. Enquanto não tiver um contrato segurando a gente, não tem por que a gente trabalhar com pessoas que não se encaixam. 

Gustavo: A gente preza muito pela química interna, entre os membros, porque hoje em dia eu acho que a banda funciona assim, se não 50%, pelo menos 70%, pela química interna. Tem uma conexão muito grande. Sentimos isso quando estamos tocando, e sentimos que isso influencia muito no produto final também. 

Guilf: Inclusive, o Renan e o Tety (Tiago) que entraram, além de serem excelentes músicos, também pensamos assim “Cara, são pessoas que a gente gosta, então eles vão somar muito bem”. E dito e feito! Somaram muito bem. A gente ensaia junto, a gente bebe junto, a gente troca ideia, essas coisas… Não é só aquele negócio: entrou, ensaio e foi embora. Acho que o Tety pode completar algo sobre essa questão porque ele entrou agora e porque já diz diretamente sobre ele.

Tety: Essa questão da amizade esteve muito presente, não só no convite para entrar (na banda), mas até antes. Eu tenho uma outra banda e a gente já tinha tocado antes numa mesma noite, eu conhecia os meninos, mas a gente não era tão chegado, tão próximo. E aí, por conta de amigos em comum, na pandemia que a gente foi se aproximando mais e vimos que tínhamos muita coisa em comum. No meio desse caminho o baterista saiu e aí me chamaram. Mas, assim, eu tenho quase certeza que se não fosse por essa amizade que surgiu no meio da pandemia, talvez o convite não fosse para mim, porque a gente se conhecia, mas éramos só colegas da noite, de dia de show. Então foi muito bom poder me aproximar mais dos meninos nesse primeiro momento e me aproximar mais ainda depois, entrando na banda. 

LINDIE: E como foi entrar numa banda no meio da pandemia sem saber para onde estavam indo?

Tety: É, foi doideira, eu pensei bastante. Quando o Guilf veio me chamar eu falei para ele “Cara, deixa eu pensar um pouquinho, não vou conseguir te dar uma resposta agora não”. Então eu pensei bastante. A minha outra banda estava parada, está parada até agora por conta da pandemia. A gente ia gravar, estávamos animados e de repente veio a pandemia e a gente parou e não voltamos até agora. As coisas esfriaram, foi cada um para um canto. Então, assim, foi a questão inversa da minha entrada na Contratempo. E aí eu falei “Pô, por que não? Estou órfão de banda, não ensaio” e aí fui de cabeça, sem saber mesmo o que estavam esperando, sem saber se eu deveria entrar ou não. Mas, ah, vou tentar, vamos embora. E aí tô aí até hoje. 

LINDIE: Como foi a dinâmica entre vocês com a entrada dos novos integrantes e a gravação de In Cendio

Guilf: A gente já tinha algumas músicas. A ideia, inclusive, era gravar com a formação anterior, só que a gente acabou trocando e mantivemos o plano. A princípio nem íamos chamar outras pessoas, íamos ser só nós três.

Ian: Só que a gente ficou com aquele sentimento que estava incompleto, sabe?! Aí casou as oportunidades do Renan e do Tety, e pensamos “Por que não? Esses caras, além de tocarem muito, estão junto com a gente. Acho que a gente não precisa ter esse medo”. Porque é a mesma coisa que você terminar um relacionamento: você termina com alguém e fica aquele trauma “Pô, não vou me relacionar com ninguém agora”, sabe? “Vou ficar na minha, vou ficar de boa”. 

Guilf: E nós temos algumas pessoas que ajudam a gente, da nossa equipe e tal, e uma pessoa falou “Cara, acha gente de uma vez, porque sabe-se lá quando os shows vão voltar”. Na época acho que nem tínhamos vacinado, foi bem no início do ano mesmo, de 2021. Mas ainda assim as coisas estavam muito no escuro, então já estávamos nos preparando. E acabou que a gente já entrou em estúdio, já gravamos música, temos alguns planos para 2022, se Deus quiser. E aí resolvemos lançar In Cendio, que é uma parte importante do que vai vir. 

Gustavo: Nós não queríamos ficar parados. Começou a pandemia e nós não sabíamos como ia ser, quando a gente poderia ter show de novo, e a gente falou “Já que não dá para fazer show, vamos produzir. O que a gente pode fazer? As músicas. Vamos continuar gravando”. Tanto que a gente conseguiu adiantar bastante coisa. Nós separamos as ideias, esquematizamos quantas músicas a gente pretendia lançar e regravar também. Conseguimos adiantar bastante essa parte fora dos palcos, para agora, se os eventos continuarem acontecendo, a gente poder voltar a se apresentar. 

Guilf: Até agosto focamos muito em gravação, especialmente a parte das baterias das músicas que estamos produzindo, porque ao contrário do resto dos instrumentos, a bateria tem que ser gravada em outro lugar. O resto a gente grava tudo aqui, inclusive estávamos gravando voz antes da entrevista. E aí depois (desse tempo de gravação das baterias) começamos a ensaiar para o que foi o nosso único show nesse período, que foi uma live. Participamos de uma live em um programa chamado Perdidos na Nuvem, que é um quadro do JF Rock City, uma organização aqui de Juiz de Fora. E eles sempre fazem esse evento, que é um evento beneficente. Eles arrecadam alimentos para instituições de caridade e tudo o mais, e esse ano eles vieram com esse formato online. Criaram um canal na Twitch e todo dia tinha um programa diferente. E nos sábados eles chamavam as bandas, então ficamos ensaiando para isso. 

Ian: E foi legal, porque, parando para pensar, foi o primeiro show 100% autoral que a gente fez. 

Guilf: E com a formação nova. 

Gustavo: Foi um show online né, não é a mesma coisa do palco, que você está lá com a galera embaixo, cantando junto contigo, você sentindo o calor do pessoal, mas só de tocarmos com a formação nova pela primeira vez já valeu.

Guilf: Então agora que estamos acabando as coisas, dá para começar a focar em finalizar esse trabalho e focar nos shows que estamos com muita saudade. 

LINDIE: Esse trabalho é um EP? Um álbum? O que vocês esperam lançar?

Ian: Então, estamos decidindo isso ainda. Por enquanto estamos lançando uma coisa de cada vez para ver como vai ser a aceitação, para saber qual vai ser o formato, sabe?

Guilf: Exatamente. A gente tem umas 10 músicas em produção, mas ainda estamos pensando. O que temos, até então, é que vamos lançar pelo menos dois singles no primeiro semestre de 2022. 

Gustavo: Já lançamos um, vamos lançar mais dois. 

Guilf: Isso, e aí, o que vier depois, pode ser que venha um álbum com as outras músicas ou pode ser que a gente feche um EP. Ainda estamos resolvendo essa questão.

LINDIE: Sobre In Cendio, ela foi a música escolhida para a volta de vocês. Qual foi o motivo para a escolha dessa faixa? 

Ian: A In Cendio é uma música que a gente já toca há muito tempo, nos nossos shows o pessoal já sabia. Ela foi muito bem aceita, o pessoal cantava junto com a gente sem ter como escutar, sabe? Escutavam nos shows e já sabiam, essa e a próxima que vamos lançar também. 

Guilf: E foi um susto com a In Cendio, porque ela não é uma música baladinha, sabe? Ela é pesadona. E eu vi gente que eu sei que não escuta rock, não escuta metal e essas coisas, elogiando muito. Eu fiquei muito feliz! A gente gostou bastante e sentimos que ela tinha força para ser essa volta. Lançamos um EP lá em 2018, teve um projetinho de cover também, mas música autoral, tanto a gente como o nosso público, ficou carente. E aí resolvemos voltar agora e a todo vapor, se Deus quiser. 

LINDIE: Ao ouvir as músicas, percebi que In Cendio é muito mais pesada que as outras canções, e fiquei pensando se era por conta da mudança na formação ou se ela já era assim mesmo. O que rolou para ter essa música mais pesada na discografia de vocês? 

Gustavo: Quando a gente lançou o EP em 2018, nós já tínhamos um tempo de banda. Éramos mais novos, e, quando mais novos, acaba que não temos todo o conhecimento e maturidade para as músicas. A In Cendio já vem com uma maturidade bem diferente das músicas do EP. A gente já quis voltar logo lançando ela para realmente mostrar essa identidade nova, essa formação e essa característica nova da banda. Eu acho que foi muito por isso, sabe, pelo tempo também. Por mais que a gente tenha lançado ela agora, ela ficou por um tempo na nossa mão, conseguimos trabalhar bastante nela, pensar em esquematizar a métrica, cortar algumas partes. E com essa maturidade agora, o Guilf é professor de música, tem bastante conhecimento e também é produtor, então ele traz um conhecimento para dentro da banda. Acho que foi um conjunto de coisas. Ela entrega realmente esse amadurecimento muito grande nosso. 

Guilf: Tanto artístico quanto técnico. Porque até na gravação a gente percebe uma diferença. Tanto a produção artística, composição, o contexto das músicas para com a In Cendio… Está bem diferente. Eu sinto a melhora e acho que todo mundo que conversou comigo sentiu também. 

LINDIE: O que vocês podem adiantar que ainda vem por aí? 

Guilf: Bom, estamos trabalhando para lançar o single novo. É uma vibe bem mais leve que In Cendio.

Ian: Acho que é muito mais comercial, né?!

Guilf: É, é uma música um pouco mais comercial. O que a gente pode esperar das músicas novas que vão vir, além da questão da maturidade, acho que as letras estão mais maduras, os arranjos estão mais maduros…

Ian: Uma conexão maior entre cada elemento, sabe?

Guilf: A mentalidade está um pouco mais madura. A produção, modéstia à parte, está melhor. Então acho que a gente só tem pontos positivos.

LINDIE: E liricamente, emocionalmente, como as pessoas receberão essas músicas? Sobre o que elas falam? Quais as histórias dessas músicas? 

Gustavo: A princípio, como a gente só lançou In Cendio, talvez seja um pouco cedo para termos uma noção da dimensão do impacto que vai causar no nosso público, mas como a gente falou, por causa da maturidade, eu acho que vai causar um choque, sim. Eu acredito que a gente vai ser visto de forma diferente. 

Ian: E acredito que esse lance de estarmos nos descobrindo vai causar um impacto também nas pessoas que estão vivendo isso, porque isso é uma coisa do nosso cotidiano: a gente procurar quem a gente é. 

Guilf: (sobre o tema das canções) Autoconhecimento atrelado às coisas que a gente vive mesmo. Às vezes não necessariamente do que vivemos, mas a gente cria um “eu-lírico” e vive aquilo. In Cendio, por exemplo, veio por causa de uma frase que eu ouvi e dali veio toda a construção, toda essa metáfora do fogo ser a energia, ou fé, ou aquilo que te faz levantar todos os dias de manhã da sua cama.

Ian: E a próxima, por coincidência, é mais sobre água. Água é vida, renovação, e é até engraçado que o refrão eu fiz tomando banho (risos).

Com uma nova formação concisa e alinhada sobre os desejos musicais, a Contratempo chega de vez ao cenário underground brasileiro e está pronta para trazer novidades.

Ouça Contratempo:

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