Olivia Rodrigo é o nome do momento. Aos 18 anos, a artista está em destaque desde o lançamento de “Drivers license”, em janeiro deste ano. O primeiro single de Sour traz à tona uma composição bem-construída que chama a atenção para uma desilusão amorosa, as fragilidades e inseguranças do eu-lírico entre as subidas e descidas da melodia. Americana de origem filipina, a cantora - também atriz, com trabalhos em produções da Disney, como "Bizaardvark" e "High School Musical: A Série: O Musical" - bebe de fontes como Paramore, especialmente nas faixas “Good 4 you” e “Brutal”, Taylor Swift, Fiona Apple e mantém o estilo de produção do pop feito pela Lorde.
Se “Drivers license” apontou para uma nova estrela do pop com talento e referências para construir um futuro na música, “Déjà vu” e “Good 4 you” sinalizaram que Olivia Rodrigo já é essa artista. Agora, Sour chega para consolidar de vez o nome da cantora entre os principais da atualidade. Transitando de gênero em gênero sem se perder e apostando em comentários irônicos, “azedos” e que narram suas desilusões com a adolescência, as 11 faixas são uma história completa com início na revolta de um término e somada com a insegurança, passando pela melancolia e angústia e encerrando em tom de sobriedade. Em algum ponto, é impossível medir as razões por trás de todas as tristezas e fragilidades descritas nas letras, no entanto, o momento parece a única forma que Olivia externalizou verdadeiramente estes pensamentos, além de apresentar uma franqueza pouco comum em discografias de estrelas da Disney, o que torna Sour ainda mais curioso.
Compostas pela cantora em parceria com Dan Nigro, também produtor do álbum, todas as músicas parecem se encaixar perfeitamente em seus lugares no disco. Entre uma canção e outra, Olivia apresenta uma insegurança característica da idade e confessa ser ciumenta, um pouco egoísta, muito sentimental e, como não poderia faltar, apaixonada.
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A jornada de Sour é iniciada com Brutal e um instrumental que remete à tristeza e contos de fadas da Disney. Segundos depois, a sonoridade é bruscamente alterada para um rock marcado pela forte bateria inicial e os riffs de guitarra que percorrem praticamente a música inteira. Na letra, Olivia insere comentários irônicos, conta sua história e lamenta questões da adolescência. “Eu estou cansada de ter 17, onde foi parar o sonho adolescente? Se alguém me disser mais uma vez ‘aproveite sua juventude’, eu vou chorar”. A faixa traz a cantora falando, cantando e, quase gritando em alguns trechos até retornar ao instrumental inicial, quando a voz de Olivia se torna melancólica e terna.
A baixa na intensidade do som deixa a transição para a faixa seguinte, Traitor, harmoniosa. Bem mais ‘calma’ que a anterior, Olivia é ainda mais direta em sua mensagem: você falou com ela enquanto ainda estávamos juntos [...] demorou duas semanas para ficar com ela, você não me traiu, mas ainda assim é um traidor”. A levada arrastada e o violão dedilhado em alguns trechos da balada ecoam a mágoa e o desabafo da compositora.
A terceira faixa, Drivers license, surge e complementa a narrativa iniciada em Traitor, ainda apostando nas transições de intensidades vocais. Lançada como o primeiro single da carreira de Olivia, a canção estreou no topo da Billboard Hot 100, além de sua ponte ter sido eleita como a terceira maior do século 21 pela revista. O curioso é que sozinha a composição tem sua narrativa e é completa, mas, ao ser inserida no disco, tem uma história ampliada e parece mais completa, especialmente por conta da ordem das faixas escolhida pela artista.
1 step forward, 3 steps back segue a linha narrativa e é centrada no piano. A faixa chama a atenção pela sua lista de compositores que, além de Olivia, estão Taylor Swift e Jack Antonoff. O que acontece é que a artista fez uma interpolação - diferentemente do uso do sample, em que é necessário a autorização dos compositores originais e de quem detém os direitos da música, essa técnica não recorta trechos inteiros, usando apenas a melodia, que também pode sofrer alterações - da canção “New Year’s Day”, presente no álbum Reputation (2017). Grande fã de Taylor, Olivia também forma o número da sorte da artista, o 13, no título.
Na mesma pegada calma das três faixas anteriores, Déjà vu, segundo single de Sour, traz novos detalhes à história contada por Olivia. Assim como Drivers license, a faixa ganha ainda mais importância no contexto do disco, complementando as demais. A letra foca no novo relacionamento do ex-parceiro do eu-lírico e como tudo da relação anterior é reciclado por ele em seu novo romance. “Então, quando você vai dizer a ela que nós também fizemos isso? Ela acha que é especial, mas é tudo reutilizado".
Com um final agitado de Déjà vu, Olivia retorna à sonoridade mais pesada, com o pop-punk de Good 4 you, que lembra fases de Paramore, Avril Lavigne e Miley Cyrus. Os baixos iniciais preparam o ambiente para a saída da insegurança e a chegada de um momento ainda mais sarcástico e indignado. “Bom para você, eu acho que você está trabalhando em si mesmo. [...] Acho que aquela terapeuta que encontrei para você, ela realmente ajudou / Agora você pode ser um homem melhor para sua nova garota”, diz a letra. Mais tarde, Olivia repete o trecho e acrescenta: “Bom para você / Você está indo muito bem sem mim, baby… / Como um maldito sociopata!”.
Com uma ordem cuidadosamente pensada, Good 4 you funciona como a marcação que divide o álbum em duas metades: a primeira, com o esperado desabafo, que traz os primeiros sentimentos após um doloroso término, como raiva, tristeza, angústia e mágoa; a segunda, com um foco grande nas insegurança de questões da adolescência, como aparência, somadas ao coração partido, mostradas em um tom mais sereno. Essa virada na chave começa com Enough for you, balada tocada apenas no violão. “Eu usava maquiagem quando namoramos porque pensei que você gostaria mais de mim / Se eu parecesse com as outras rainhas do baile, sei que você amava antes”, canta Olivia logo na abertura da faixa. Na segunda metade, no entanto, há a consideração que, em algum momento, o eu-lírico será tão entusiasmante para alguém quanto a nova namorada do ex parece ser para ele e, nesse momento, quem chorará será o ex. “Nada é suficiente para você”, encerra Olivia.
Sem o violão e com a volta do piano, Happier é moldada calmamente entre sussurros e falsetes de Olivia. Na letra, ela reflete sobre o egoísmo e angústia de ver a pessoa por quem você é apaixonada feliz com outro alguém. “Eu espero que você esteja feliz, mas não tanto quanto estava comigo / Ache alguém bom, mas não melhor que eu”. Em Jealousy, Jealousy a linha permanece parecida, com a confissão dos ciúmes em imaginar a cena anterior. Apesar disso, há a tentativa de tentar ficar feliz pelo ex. Diferente de Happier, é marcada pelo baixo e riffs de guitarra.
Favorite crime retorna ao violão. Com a voz ecoando e estendendo as sílabas, Olivia reflete sobre o relacionamento como um todo. Em Hope ur ok o foco sai do antigo relacionamento e vai para as percepções de Olivia sobre dois amigos e suas descobertas do final da infância e adolescência. “Os pais se importavam mais com a bíblia do que com o próprio filho”. Observacional e atenciosa com os demais, a cantora ganha ainda mais adjetivos por conta da faixa.
Sour é melancólico, intimista, diverso sonoramente e capaz de destravar a nostalgia da adolescência até mesmo em quem já é adulto há muitos anos. Olivia Rodrigo, aos 18 anos, é o destaque total do disco, seja em composição, produção ou canto. A interpretação das músicas na voz da artista transbordam emoções dos sussurros às explosões.
A cantora mostra, fortemente, quais são suas referências, indo do folk e indie ao pop mainstream e ao pop-punk. Com diversidade de estilos e influências, o disco consegue oferecer uma canção para cada estado de espírito.
Destaques: Traitor, Drivers license, Good 4 you, Enough for you, Happier
Ouça "Sour":