O quão importante é o primeiro lançamento é trabalhar apenas um estilo musical em seu álbum de estreia? Para Wills Tevs, nem um pouco. O artista paulistano flutua entre diversos gêneros em seu primeiro disco, Espasmomonumental, que transita entre pop, rock, indie rock, bossa nova e synthpop. Liricamente, o trabalho convida o ouvinte a participar de uma montanha-russa de emoções intensas em cada uma das 11 faixas.
Com pouco mais de 33 minutos, o álbum começou a ser escrito em 2019 e, após a pausa por conta da pandemia, foi lançado no final de junho, pelo selo Agulha Produções. Fugindo do comum, o artista apostou em um disco, com começo, meio e fim, no lugar de um usual EP de estreia. Nesta dualidade, o trabalho possui canções um pouco mais curtas entre as com minutagem mais comuns. Ainda assim, as faixas menores são uma experiência marcante neste projeto, assim como Wills planejou.
Euforia, a menor, tem quase dois minutos de duração e é um exemplo disso. “A intenção é que mesmo que as músicas passem como um espasmo, como algo rápido, mas surta um efeito no ouvinte, conduza ele por uma jornada agradável, dinâmica, que ele não se sinta entediado”, afirma Wills Tevs em entrevista ao Lindie.
Essa também é a faixa em que a transição de um gênero para o outro pode ser vista com maior impacto. Para o artista, as trocas em estúdio com os produtores Rodrigo Cunha e Gustavo Arruda (Plutão Já Foi Planeta) foram essenciais para o resultado final do disco como um todo, não apenas desta faixa específica.
“Às vezes eu chegava com umas melodias e com as letras, mas a decisão de ‘pô, vamos surpreender pro punk cair por uma bossa nova’ é muito da sensação que nós temos no estúdio na hora e falamos ‘nossa, e se a gente fizesse isso?’. Gosto muito dessa troca que só o estúdio proporciona e você tá com pessoas legais, com essa cabeça aberta e que entendem sua identidade, sabem como realizar isso de uma forma que fique legal, que não fique como um trabalho perdido, mas que apesar de tantas coisas e tantos gêneros com que o rock tá conversando, haja uma unidade no final das contas”, explica ele.
Na escolha do nome para seu projeto, Wills seguiu a mesma linha de seu nome artístico: a originalidade e o diferente. “Gosto de termos autênticos. Eu não curto muito quando você pesquisa alguma coisa no Google e existem vários resultados para aquilo e às vezes você nem aparece, porque já foi falado ou já foi repetido por várias pessoas. Então, o que for possível criar alguma coisa nova, autêntica, que tem a ver com a minha identidade, esse, pra mim, é o caminho”, conta Will. “Espasmomonumental é a junção das palavras espasmo - que é alguma coisa que a gente sente repentinamente, que causa alguma sensação - e monumental para fazer disso algo grandioso”, completa.
O disco conta também com Rodrigo Cunha e Gustavo Arruda (Plutão Já Foi Planeta) na produção. O último ainda participa dos vocais em Pulo no Mar. “Trabalhar com eles foi incrível. O Rodrigo tem bastante tempo na estrada, vejo que ele trabalha com muitos artistas de diferentes gêneros, de todos os estilos. O Gustavo é guitarrista de uma das minhas bandas preferidas aqui no no Brasil e quando se fala de indie pop, indie rock, acho que eles fazem coisas muito legais. Tem um lado de criação bem forte, eu mudei minha abordagem comecei a focar mais nas melodias vocais e o Gustavo foi um cara que me ajudou bastante quando precisava trazer algum riffzinho legal, pop, cativante”, conta Wills.
Parcerias
Outra coisa que chama atenção no trabalho é o contraste entre a voz de Wills e dos artistas que participam dos feats. Espasmomonumental traz quatro amostras disso em suas faixas Obra do Acaso, com a Laprics, Pulo no Mar, com Gustavo Arruda - que também participa dos vocais de A Sós -, (Des)congelar, com Crizzan e Choque de Realidade, em parceria com Anna Cezar. “Três vozes femininas, uma voz masculina, só que a voz do Gustavo também tem esse lado mais próximo da leveza, da sutileza. Deu um contraste legal com a minha voz”.
Trabalho vocal
Para compor o trabalho, Wills também se debruçou sobre o trabalho vocal necessário para que sua mensagem fosse entregue. Com referências como Amarante, Lucas Silveira, Gustavo Bertoni, Tim Bernardes e Brandon Flowers, as diferentes técnicas empregadas pelo artista nas faixas - seja na composição ou gravação vocal - ficou ainda mais profissional. “A forma como eles criam essas melodias me inspira bastante e isso vai além do som por si só, da banda, do instrumental. Então acho que se você cria uma boa canção, essa é a alma da música, o núcleo dela está nisso e o instrumental vai complementar”, relata ele.
Greg Puciato, vocalista que saiu do metal e tem outros estilos de canto em seu projeto solo, também é inspiração. “Ele transita bem, de músicas pesadas e coloca a voz dele de uma forma mais agressiva, com drives em alguns momentos e, em outros, ele simplesmente consegue ser muito cativante e doce. Gosto muito de alternar entre momentos leves e pesados, usando a voz da melhor forma para que os ouvintes tenham sensações diferentes”, diz.
Diversidade musical
Para além da sonoridade que passeia entre diferentes estilos, Espasmomonumental é, liricamente, diverso e rico. Sempre falando da relação do ser humano com o cotidiano de forma mais filosófica, Wills aponta sua criatividade para as angústias, medos e dramas. Sem nunca falar diretamente dos acontecimentos diários ou do problema em questão, a técnica é, segundo o artista, “pegar recortes do dia a dia e olhar para isso e pensar como é que eu me sinto a respeito e assim criar as letras”.
A Sós, faixa que abre o disco, foi escrita em homenagem ao pai do cantor, falecido há cinco anos. No entanto, em momento algum a intenção foi citar diretamente este fato. Assim, Wills traça uma ideia que pode ser pega por cada ouvinte e interpretada de modo que faz sentido em suas vidas, alcançando cada vez mais pessoas.
Destaques: A Sós, Pulo no Mar, Obra do Acaso, (Des)congelar, Euforia
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