Entre as distorções, vocais profundos e efeitos instrumentais e de synth, a banda Synx se sente à vontade. Formada no final de 2019 por Renata Servato (vocal e sintetizadores), Pedro Mendes (guitarra) Lucas Radí (bateria) e Matheus Campos (baixo), grupo lançou Inventário das Palavras Ausentes, álbum de estreia, em junho, depois de três anos de lapidação.
Do shoegaze ao dream pop, o disco é resultado de testes e experimentações e, ainda, a representação fiel do início do grupo, com suas primeiras composições em conjunto sendo colocadas à prova. As seis faixas presentes no projeto foram feitas com o apoio de todos os integrantes.
O fator tempo também é determinante para a finalização do Inventário das Palavras Ausentes, visto que a pandemia atrasou os planos do grupo, que havia acabado de ser formado, e esfriou o início da Synx, que era mantida viva em comunicações a distância dos quatro músicos.
Assim, quase quatro anos depois da formação, a banda de Goiânia mostra uma importante sinalização de talentos fora do eixo de maior repercussão do país, como Rio de Janeiro e São Paulo. Estar inserido em um cenário onde o shoegaze e dream pop não são comuns pode influenciar as pessoas a acharem que eles não existem em sua comunidade. Todavia, a Synx se une a outras bandas do gênero da cena local para mostrar que, sim, eles estão por toda parte.
A estruturação da Synx
A Synx foi composta após as interações no Twitter entre Renata Servato e Pedro Mendes e a provocação de Lucas Radí, que já conhecia a vocalista e perguntou se ela iria formar a banda. Matheus Campos, amigo de escola do guitarrista, foi convidado posteriormente. “Marcamos uma reunião em um karaokê e foi onde tudo começou, já saímos com o nome da banda”, conta Renata em entrevista exclusiva ao Lindie. “Esse dia eu estava no mesmo lugar, inclusive, cumprimentei o Pedro”, relata Matheus.
De cara, o shoegaze era a conexão que uniu o quarteto e foi fortalecida entre Renata e Pedro. “Sempre conversava com ela porque éramos as duas únicas pessoas que gostavam do gênero antes de formarmos a banda, então já tínhamos esses gostos alinhados. O Lucas também, mas eu ainda não o conhecia e assim que nos conhecemos, gostei dele logo de cara. O Matheus entrou para dar um gostinho diferente porque ele ainda não ouvia esses estilos de música. O massa é que trouxe um tempero a mais: as referências dele para juntar com as nossas”, explica Pedro sobre o processo de integração do grupo.
Matheus também precisou se adaptar ao instrumento que assumiu na banda: o baixo. Acontece que o músico é originalmente guitarrista, posto já ocupado por Pedro, e precisou aprender tudo do zero e na prática para estar na Synx.
Os percursos até o Inventário das Palavras Ausentes
Antes de chegar às versões finais das seis músicas presentes no disco de estreia, a Synx se descobriu e, quando parecia finalizar o processo, se reinventou observando a repercussão das produções ao vivo. No entanto, o Inventário das Palavras Ausentes é, sobretudo, a junção sem restrição dos quatro integrantes, que, em partes, se conheciam ao longo do processo.
“No início, as composições eram ruins. Mas acho necessária essa parte porque nós nunca tivemos medo de compor, mesmo que não ficasse legal. A gente foi aprendendo a trabalhar junto na tentativa e erro”, conta Pedro. “Nessa primeira fase era tudo mais cru, fizemos nosso primeiro show no Martim Cererê, centro cultural de Goiânia, e apresentamos essas músicas lá. Conforme fomos ouvindo e tocando, percebemos muita coisa e mudamos, nunca tivemos receio disso. A maior parte das músicas do álbum são dessa época, pelo menos o embrião delas”, conclui ele.
Deste modo, a Synx definiu, ainda que inconscientemente, o processo de lapidação do primeiro disco: composição em conjunto, shows e o retorno para o estúdio. “Esse processo fez com que a gente entendesse a linguagem um do outro e melhoramos nossa composição”, fala Pedro. Das idas e vindas aos ensaios, o grupo conseguiu se unir e conectar ainda mais.
A primeira música que o quarteto teve orgulho de mostrar foi Terraço. Janelas, lançada oficialmente antes, foi uma faixa que os integrantes não nutriram o mesmo sentimento. As duas, entretanto, foram o ponto de partida para o disco inaugural. “Já tínhamos lançado Janelas e Terraço, conversamos sobre quais os outros singles nós queríamos selecionar, o que já estava no setlist do show, o que precisávamos adaptar para uma versão gravada, para tentar encaixar e fazer esse álbum”, elabora Matheus. “Nosso álbum já nasceu com um conceito, com uma conexão entre as músicas, então fez muito sentido”, finaliza Renata.
Terceiro single, Colagem mostra a versatilidade que a banda tem a oferecer em um movimento coeso com o que eles já se propõem a mostrar. “Ela tem uma característica um pouco diferente, foi um frescor para gente. De tanto mexer em harmonia, tentamos deixar shoegaze, dream pop e, por fim, chegamos em um nível que percebemos que ela já tinha cara de single. Apostamos nela como forma de chegarmos em mais pessoas”, afirma Renata.
O tempo, mencionado no início, também se mostrou essencial no processo de gravação. Isso porque, como as músicas eram testadas ao vivo e retornavam ao estúdio, o quarteto conseguiu lapidá-las até chegar a um resultado de que se orgulhavam. O fator financeiro também influenciou na diluição do processo de finalização do disco.
“Uma gravação que você vai investir um dinheiro que é seu, do seu trabalho que, às vezes, precisa juntar por um tempo para conseguir gravar todas as faixas. A gente teve que se organizar de modo a alinhar nossa agenda com a realidade financeira. Fomos fazendo aos poucos até que conseguimos gravar tudo”, esclarece Matheus.
Deste modo, entre ensaios e shows, a Synx conseguiu chegar a um disco coeso e sólido de shoegaze e dream pop, e segue abrindo caminhos para a ampliação de uma cena do estilo em Goiânia.
Ouça: