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Ale Sater (voz, baixo e violão), Bruno Paschoal (guitarra, baixo, sintetizador e voz), Greg Maya (guitarra e sintetizador) e Luis Cardoso (bateria e voz) sentados no metro de São Paulo.

Publicado porFernando Vinícius

em 14/03/2022

Com o lançamento de seu terceiro álbum de estúdio, Violeta, em 2019, a banda paulistana Terno Rei – integrada por Ale Sater (voz, baixo e violão), Bruno Paschoal (guitarra, baixo, sintetizador e voz), Greg Maya (guitarra e sintetizador) e Luis Cardoso (bateria e voz) – passou a se destacar no cenário musical underground brasileiro, e mesmo a transpor as linhas do underground, alcançando novos públicos e maior popularidade. Violeta veio, de fato, com esse propósito, de tentar levar o Terno Rei para além do nicho. Viu-se, no álbum, uma sonoridade muito mais pop do que em trabalhos anteriores da banda, com maior presença de sintetizadores, guitarras leves e um notado apuro de conceito músico-visual. A elegante e atraente atmosfera proposta pelo disco agradou a crítica e representou um divisor de águas na carreira do grupo.

Agora, enfim, o aguardado sucessor de Violeta, intitulado Gêmeos, está no mundo, via Balaclava Records. O quarto álbum de estúdio da banda foi lançado dia 9 de março deste ano e conta com 12 faixas. Terno Rei, que já caminhou pelo rock progressivo, space rock e rock alternativo em seus dois primeiros álbuns, Vigília (2014) e Essa Noite Bateu Com um Sonho (2016), hoje escolhe desbravar novos territórios criativos, de maior contundência comercial, e se utiliza amplamente da estética sonora – que hoje é tendência mundial – de bandas dos anos 2000, chegando a algo que pode ser descrito como uma mescla de dream pop, shoegaze e pós-punk. Ingredientes mudaram, mas o cerne do grupo permanece o mesmo. Percebe-se as marcas características do Terno Rei nos timbres, arranjos, na voz melancólica e arrastada de Ale Sater (primo do grande Almir Sater), entre outros aspectos que se tornaram indicativos do DNA da banda.

Os matizes e os lados do álbum Gêmeos

Gêmeos foi produzido durante a pandemia, tendo sido gravado em Curitiba, no Nico’s Studio, de Nico Braganholo, que assina mixagem e masterização do disco. A produção ficou nas mãos de Amadeus de Marchi, Gustavo Schirmer e Janluska. O processo de desenvolvimento do projeto foi descrito pelos integrantes do Terno Rei como muito desgastante e trabalhoso, tanto por haver mais pessoas envolvidas no percurso criativo, quanto pela pressão de ser este álbum o sucessor de Violeta, que, por sua vez, aumentou muito a expectativa do público e da crítica em relação à banda.

Primeiramente, na capa do álbum há uma interessante – e, segundo o grupo, acidental – progressão de conceito. As cores da capa, azul-piscina e verde, estão localizadas, no espectro solar, logo depois da cor violeta, o que torna Gêmeos já em sua apresentação visual o sucessor natural de Violeta. E, sobre o título, a banda explica que foi escolhido como símbolo de conexão, remetendo às amizades profundas e marcantes que se constrói quando se é jovem.

O assunto-base do trabalho é a saudade de uma adolescência idealizada que contrasta com um presente em que a vida adulta se mostra aflitiva e insatisfatória. Costurando reminiscências íntimas e doces, as canções relembram amizades e amores desfeitos pelo tempo, marcados pela lisergia e intensidade próprias da juventude. Nisso, a voz suave de Ale cumpre importante papel, trazendo com delicadeza esse estado pensativo de nostalgia. E, desse modo, o álbum se configura como um profundo e constante anseio de retorno à uma época e a um estado de espírito irrepetíveis por natureza. 

Já no que se diz respeito aos arranjos instrumentais, o álbum se divide em “três lados”, como a banda gosta de definir. E estes três lados foram apresentados previamente pelas três faixas lançadas, em formato de single, como antecipação do disco: Dias da Juventude, Difícil e Aviões

O primeiro single, Dias da Juventude, é representante da faceta anos 2000 de refrões e melodias chiclete. Como denuncia o título da canção, trata-se de um retorno nostálgico à adolescência. O eu-lírico se vê refém do desejo de voltar aos dias e afetos perdidos: “Noites em claro, sei lá/ Lembra dos tempos de rua/ [...] Eu quero te lembrar dos dias da juventude”. Outras faixas que seguem esta linha de sonoridade são, por exemplo, Esperando Você, que abre o álbum, e Internet.

Outro lado estético do trabalho seria o chamado synthpop, que possui forte presença de sintetizador e apresenta ora um aspecto mais rock, como na música Difícil, ora um aspecto mais suave e pop, como em Sorte Ainda. Ambas as faixas prosseguem com os motivos discursivos que atravessam todo o álbum, que são a melancolia, a intenção de regresso ao passado e reflexões sentidas a respeito de amizades e amores.

E, por fim, o último “lado” proposto pelo disco é o da leveza acústica e de maior teor meditativo, em que o violão ganha protagonismo e a bateria já leve de Luis Cardoso se contém ainda mais. Isso se vê, principalmente, nas faixas Aviões, Olha Só e Isabella - esta última com elementos inspirados em Arthur Verocai.

Gêmeos cumpre, satisfatoriamente, o papel de sucessor de Violeta. Sem grandes surpresas com relação aos direcionamentos artísticos que o Terno Rei vem apresentando nos últimos anos, o álbum mantém a banda em seu curso natural e não decepciona, apresentando arranjos muito mais elaborados e diversos do que se viu em Violeta. Em suma: Terno Rei permanece firme como um dos carros-chefe da música alternativa brasileira e mostra disposição para ir além.

Ouça Gêmeos:

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