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Ana Müller, Rodrigo Alarcon e Mariana Froes posam para a câmera. Os três estão ao ar livre na iluminação natural, com cores de roupas bem destacadas, como o vermelho de Froes. O contraste da imagem é alto.

Publicado porLuisa Pereira

em 26/06/2021

Com um piano marcado numa sonoridade influenciada pelas referências da música brasileira dos anos 50 e 60, o EP Taquetá Vol.1 começa a fluir nos ouvidos do público. O projeto, idealizado pelo selo Taquetá, traz as vozes da capixaba Ana Müller, da goiana Mariana Froes e do paulista Rodrigo Alarcon, três potenciais nomes da Nova MPB. Com produção musical de Niela Moura e faixas assinadas por Müller e Alarcon, o material conta com cinco faixas capazes de transportar os ouvintes em uma viagem no tempo e trazer a nostalgia das décadas passadas.

Alarcon relembra que a ideia do EP surgiu originalmente como um single de final de ano, adiado por conta da gravação de Prelúdio, da Ana Müller. “Neste processo acabamos escrevendo três músicas. E aí, a Niela falou ‘poxa, bora matar mais duas e fechar um EP’. A ideia era um projeto que fosse, ao mesmo tempo, a mistura da identidade dos três, que explorasse as sonoridades distintas de cada um, com influências que venham de fora, outras coisas pra gente experimentar mesmo, sem um compromisso”.

Autêntico, o EP consegue se distanciar dos trabalhos solo dos artistas, como Incompreensível (2019), de Ana Müller, Parte (2019), de Rodrigo Alarcon, e Nebulosa (2020), de Mariana Froes. Ainda assim, o projeto carrega a soma das bagagens culturais dos artistas e produtores por conta da cumplicidade do trabalho em conjunto. “Compusemos músicas totalmente sinceras e foi uma experiência muito legal, eu nunca tinha feito isso”, afirma Müller sobre a escrita e junção de experiências na produção. “Existe o  ego do artista, né?  Às vezes a gente fica meio apegado àquilo. Foi muito massa fazer esse trabalho com as meninas, porque é uma confiança muito legal de você ter, do desprendimento da obra. A gente conseguiu misturar nossas linguagens de um jeito muito bacana, ficou muito bom, eu tenho muito orgulho do que conseguimos fazer”, completa Alarcon.

Essa distância entre os trabalhos dos artistas e o EP pode ser vista em maior escala em Às vezes bate uma saudade, faixa que abre o projeto, que começa lenta, no piano, com as vozes de Rodrigo Alarcon e Ana Müller. Em um suave coro, Mariana Froes canta ao fundo no refrão. A canção, que fala sobre um relacionamento e sua superação, ainda conta com um solo de piano no meio, que antecede os coros finais do trio. 

Com um piano mais melancólico, Carta que não diz inicia com a voz firme de Froes, que mostra a potência vocal da artista de 18 anos, lembrando nomes clássicos da MPB, como Maysa. A união dos timbres dos três deixa a canção mais dinâmica e interessante. “Queria poder dizer que eu jamais senti nada por você. Queria poder des-chorar a lágrima que já rolou. E se já rolou, vai secar. E se já secou, ninguém viu. Vou mandá-la pra ponte que caiu. Essa carta que não diz…”

A balada Passageiro foi o segundo single lançado. Nesta, é a voz de Alarcon em destaque. Mais uma vez, o piano de Everson Bastos traz ainda mais charme à composição. “Eu sou passageiro. E o meu roteiro. É um drama sem fim. Uma comédia ou algo assim. Quem lê, vai rir. Ou vai chorar. Não cabe a mim."

O último single lançado antes do EP final, Enquanto a chuva não vem traz versos guardados de Müller. Para ela, a canção é sobre “A subjetividade do tempo, sobre autoamor, dominar a si mesmo e, sobretudo, entender que todo amor é sempre seu, até o que você ofereça ao outro.”

A linha marcante de baixo de Segunda finaliza o EP de forma encantadora. Na letra, os artistas falam sobre a vida na cidade grande. “Santo de casa não faz milagre. E eu nasci nessa cidade. Com choro e sem vela. Meus pés empurram sua calçada. Tropeço em pedras, em corpos. E piso em cigarros."

O projeto aponta a manutenção em alto nível do gênero, consolidando o nome dos três como novos expoentes da MPB. “Pra mim, é uma honra poder, agora, inspirar e influenciar os novos artistas da mesma forma que todos nós fomos. Eu, Rodrigo e Ana fomos influenciados também. É isso, a MPB é assim, é um gênero que une muito as pessoas, o novo, o antigo. Usamos para um projeto de 2021 artistas das décadas de 50, 60 e 70. Pra mim, é sensacional”, conta Froes. Apesar de carregar uma bagagem sonora mais voltada às décadas passadas no EP, Alarcon pontua que o processo de influência “é contínuo”. “Assim como nos inspiramos em artistas antigos, também nos inspiramos em novos artistas. Tem uma safra de novos artistas muito inspiradores. Então, é sempre uma coisa que se renova e todo mundo acaba se inspirando e você vê um trabalho de um amigo e, enfim, é sempre contínuo essa referência. A referência nunca tá só no passado”, completa ele.

Em meio a período pesado, Taquetá Vol. 1 nos lembra de épocas passadas e traz cargas nostálgicas aos ouvintes, que podem ter a honra de se desprender da realidade por alguns minutos para ficarem envolvidos com as vozes de Ana Müller, Rodrigo Alarcon e Mariana Froes. Aos que sentem saudade da MBP clássica, os três artistas mostram que, mesmo em 2021, ela ainda permanece viva nos novos nomes da música.

Ouça Taquetá Vol.1

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