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Balaclava Fest 2023: American Football e Thus Love brilham em evento histórico da música alternativa

Publicado porFernando Vinícius

em 28/11/2023

No dia 19 de novembro, um domingo, o clima de São Paulo mudou repentinamente para receber a 13ª edição do Balaclava Fest, um dos maiores eventos de música alternativa do Brasil. Depois de muitos dias de calor intenso, o que se viu foi uma tarde cinzenta, chuvosa e com temperatura mais baixa, adequada às colorações dos gêneros musicais do Balaclava Fest 2023, que passeou pelo shoegaze, indie-rock, acid, midwest emo, punk e outros.

O lugar escolhido para o evento, o Tokio Marine Hall (antigo Tom Brasil), proporcionou ambientes termicamente agradáveis, permitindo a entrada de garrafas d’água. A estrutura contou com fumódromo, sala de venda de merchandising, pequenas ativações de marcas e um cardápio variado para contemplar diferentes preferências dietéticas.

O festival, iniciativa do selo e distribuidora Balaclava Records para trazer ao Brasil artistas alternativos e independentes, possibilitou momentos inesquecíveis aos amantes do indie, emo e shoegaze. O Fest teve como destaques os shows do American Football e da potente Thus Love, contando também com outros artistas de peso, como Unknown Mortal Orchestra, Whitney e Hatchie.

Vem conferir em detalhes como foi o Balaclava Fest 2023!

terraplana + Shower Curtain — Balaclava Fest 2023

A pontualidade, aspecto que deixa a desejar em muitos festivais semelhantes de médio e grande porte, não foi um problema no Bala Fest. Às 15h40, os curitibanos da banda terraplana dividiram o palco Hall (o “palco B” do evento) com o grupo Shower Curtain, que começou como projeto pessoal da também curitibana Victoria Winter e, depois, tornou-se quarteto baseado em Nova York.

terraplana dividiu o palco Hall com o grupo Shower Curtainterraplana dividiu o palco Hall com o grupo Shower Curtain / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Como poucas vezes se vê em festivais, a casa já estava cheia, com um público animado e disposto a se deixar envolver pelo shoegaze e dream pop denso e distorcido das bandas. Com guitarras pesadas e vocais sutis, terraplana e Shower Curtain mostraram personalidade, tocando algumas de suas principais faixas, incluindo meus passos (2023), feita por ambos os grupos, em parceria.

Durante o encerramento, a apresentação contou até mesmo com bate-cabeça, conduzido pela languidez e introspecção que define a atmosfera sonora das bandas.

PVA — Balaclava Fest 2023

Em seguida, o trio PVA, do sul de Londres, tomou o palco Hall com seu acid e dance music, que mescla elementos orgânicos do indie-rock às texturas, beats e viagens sonoras da música eletrônica.

PVA fez uma ótima apresentação com seu acid e dance musicPVA fez uma ótima apresentação com seu acid e dance music / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Criando um ambiente de sonoridade pós-punk hipnótica, a banda encontrou seu caminho para perto do público, gerando animação e fazendo muitas cabeças balançarem. A banda entregou uma ótima performance, tocando músicas de seu álbum de estreia, BLUSH (2022), e foi muito aplaudida.

Whitney — Balaclava Fest 2023

Pouco antes do fim do show da PVA, foi aberto o acesso ao palco Balaclava, principal palco do Fest. Veio, então, a banda Whitney, originária de Chicago, Estados Unidos. Com uma mudança na configuração canônica de instrumentos, a bateria foi colocada em destaque, para que o vocalista, baterista e frontman do grupo, Julien Ehrlich, ficasse em evidência.

Julien Ehrlich durante o show da banda WhitneyJulien Ehrlich durante o show da banda Whitney / Foto Mariana Luiza/Lindie

Com sua voz aveludada e incrivelmente consistente, Julien ocupou o palco ao lado de Max Kakacek, seu companheiro de composições, e do restante da banda, que vinha com trompete, teclados, guitarra e baixo. Assim, Whitney desfilou com extrema habilidade seu indie-pop romântico com tons de blues e folk music, tocando faixas icônicas de sua discografia, como Dave’s Song, Valleys (My Love) e Giving Up.

Durante a apresentação, Julien interagiu de forma espontânea, dizendo ter gostado da carne brasileira. O público se mantinha empolgado, mas mostrou conhecer pouco o repertório da banda, aplaudindo, em certo momento, o suspense silencioso de uma música, pensando ser o final dela. Ainda assim, o saldo da segunda passagem do grupo por terras brasileiras se mostrou positivo: a plateia se mostrou alegre e agradou os músicos, que agradeceram pelo carinho.

Banda Whitney no Balaclava Fest Banda Whitney no Balaclava Fest / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Hatchie — Balaclava Fest 2023

A australiana Hatchie trouxe o público de volta ao palco Hall. Um tanto tímida ao cumprimentar a plateia, a cantora foi atrapalhada por uma forte microfonia, rapidamente superada. Junto à guitarrista Samira Winter, Hatchie tocou baixo e contou com reproduções eletrônicas das percussões de suas músicas. Na plateia, era possível ver Stephani Heuczuk, vocalista e baixista da terraplana, aproveitando o show.

Hatchie trouxe uma voz angelical e precisa para o palco HallHatchie trouxe uma voz angelical e precisa para o palco Hall / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Com voz angelical e precisa, um sorriso no rosto e demonstrando sua satisfação em se apresentar no Brasil, a australiana deixou clara a potência de sua mistura de shoegaze e dream pop, tocando faixas de seu LP mais recente, como Lights On e Quicksand. Durante o show, a cantora enfatizou o desejo de voltar ao Brasil para tocar com banda completa.

Samira Winter se apresentou junto com HatchieSamira Winter se apresentou junto com Hatchie / Foto: Mariana Luiza/Lindie

American Football — Balaclava Fest 2023

Embora não tenha sido escolhida para encerrar o Bala Fest, a icônica e histórica banda emo American Football era a grande atração da noite, fazendo sua estreia no Brasil. Desde sua acanhada entrada no palco, desde o primeiro riff da primeira música, o grupo causou intenso frenesi, levando o público à loucura.

Mike Kinsella, frontman da American Football, que também se apresentou com seu projeto solo, Owen, em sideshow do festival Mike Kinsella, frontman da American Football, que também se apresentou com seu projeto solo, Owen, em sideshow do festival / Foto: Mariana Luiza/Lindie

A faixa escolhida para iniciar o show foi Stay Home, com seu longo e meditativo crescendo. Na sequência, a banda interagiu pouquíssimo com o público, emendando músicas com suas progressões oníricas de midwest emo, que, somadas aos jogos de luz obscuros e à fumaça, davam à apresentação um aspecto geral de sonho.

American Football foi uma das atrações mais aguardadas da noiteAmerican Football foi uma das atrações mais aguardadas da noite / Foto: Mariana Luiza/Lindie

O show seguiu com grandes sucessos da trajetória do grupo, entre eles: Uncomfortably Numb, My Instincts Are the Enemy, Home Is Where the Haunt Is e, é claro, para fechar o encore, a clássica Never Meant.

No decorrer do show, a energia inicial do público foi dando lugar à contemplação. Pessoas choravam, maravilhadas com a voz e a guitarra de Mike Kinsella em diálogo com seus companheiros. Era perceptível o envolvimento de todos, acompanhando e se entregando à American Football do primeiro ao último minuto. A plateia contou inclusive com personalidades da música brasileira, como Lucas Silveira, da banda Fresno, que registrou, feliz, trechos de Never Meant com o celular.

Público se entregou ao American FootballPúblico se entregou ao American Football / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Thus Love — Balaclava Fest 2023

A banda punk Thus Love provocou uma brusca quebra no tom geral do evento. O trio queer, vindo de Massachusetts, instaurou uma ambiência selvagem, enérgica e dinâmica, com intensas distorções de guitarra, solos, riffs velozes e bateria frenética.

A banda Thus Love instaurou uma ambiência selvagem, enérgica e dinâmica no evento A banda Thus Love instaurou uma ambiência selvagem, enérgica e dinâmica no evento / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Definitivamente, o grupo possui magnetismo suficiente para o palco Balaclava. Ainda assim, no palco menor, a Thus Love incendiou a plateia, provocando muitos gritos, danças e respingos de cerveja, tocando músicas de seu disco de estreia, Memorial (2022) e singles mais recentes. A jovem banda teve postura digna de megagrupos consagrados da música, com pose firme e cativante dos rockstars que são.

Thus Love brilhou no palco do Balaclava FestThus Love brilhou no palco do Balaclava Fest / Foto: Mariana Luiza/Lindie

E, como todo grupo que preza por sua veia punk, agradeceram aos funcionários que fizeram o evento acontecer, além de agradecer à plateia.

Unknown Mortal Orchestra — Balaclava Fest 2023

O headliner do Balaclava Fest, Unknown Mortal Orchestra, trouxe um ambiente mais estático e calmo ao evento. Os lugares mais próximos ao palco Balaclava já não eram tão disputados, no entanto a casa permanecia com público considerável, que quase lotou o salão, incluindo artistas que haviam se apresentado mais cedo, como a guitarrista Samira Winter.

O headliner do Balaclava Fest foi a banda Unknown Mortal OrchestraO headliner do Balaclava Fest foi a banda Unknown Mortal Orchestra / Foto: Mariana Luiza/Lindie

O grupo neozelandês iniciou sua apresentação de modo intimista e minimalista, com um solo delicado de sintetizador. Depois, o frontman da banda, Ruban Nielson, e seus demais integrantes preencheram o palco, entregando à plateia sua característica mistura de R&B, rock e psicodelia.

Já nas primeiras faixas a banda foi bem aplaudida, e era possível ver inúmeros movimentos sutis de cabeça e dancinhas contidas. Assim, em acordo com o ambiente sereno criado pela banda, o público não esboçou reações mais intensas e expansivas, nem mesmo quando Ruban desceu do palco e correu em volta salão enquanto tocava sua guitarra, ou quando o grupo tocou grandes sucessos, como Hunnybee, Multi-Love e So Good at Being in Trouble.

Ruban Nielson, e seus demais integrantes preencheram o palco, entregando à plateia sua característica mistura de R&B, rock e psicodeliaRuban Nielson, e seus demais integrantes preencheram o palco, entregando à plateia sua característica mistura de R&B, rock e psicodelia / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Dessa forma, em uma atmosfera tranquila, talvez em alguns momentos à beira da monotonia, a Unknown Mortal Orchestra conduziu sua apresentação tecnicamente impecável, sendo muito aplaudida e respeitada ao encerrar o Balaclava Fest 2023.

Plateia e festival

O público, bastante analisado e julgado por dita “postura indiferente” ao longo de todo o evento, em especial durante o show da UMO, talvez tenha sofrido ataques injustos.

Público durante o show da banda Unknown Mortal Orchestra no Balaclava Fest Público durante o show da banda Unknown Mortal Orchestra no Balaclava Fest / Foto: Mariana Luiza/Lindie

Na primeira atração do dia, os amantes da música alternativa já compareciam em peso, enfrentando um dia frio e chuvoso, e abriam rodas de mosh durante os momentos finais de terraplana + Shower Curtain. Depois, lotaram o salão do palco Balaclava para se emocionar com o som marcadamente introspectivo da American Football.

Logo em seguida, a incrível Thus Love levou a plateia aos gritos, causando até desentendimentos, pois algumas pessoas estavam enlouquecidas, pulando e derramando cerveja em quem estava ao redor.

Então, ao considerar a conduta geral do público, que estava ainda se aclimatando e descobrindo diversas das excelentes atrações trazidas pela Balaclava, o que se pôde perceber foi uma recepção calorosa, amigável e, sobretudo, condizente com os gêneros musicais abraçados por essa edição do fest, que foram em direção ao shoegaze introspectivo e lento, ao midwest emo meditativo e ao R&B de progressões compassadas.

Fã segurando LP da artista HatchieFã segurando LP da artista Hatchie / Foto: Mariana Luiza/Lindie

No que diz respeito à organização e produção do festival, vimos mais uma ótima aula da Balaclava Records, que muito tem a ensinar a produções de eventos de porte similar. Com pontualidade (rara em eventos brasileiros), excelente organização e uma curadoria fantástica “feita à mão” (que, mesmo contemplando diversas vertentes musicais, deixou evidente ter um fio condutor estético como base), a Balaclava mostra conhecer a receita e possuir os meios necessários para proporcionar ao público festivais de música bem-estruturados e artisticamente memoráveis.

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