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Caio Weber aparece de preto, em um fundo preto, posando para a câmera

Publicado porLuisa Pereira

em 08/09/2021

“Fiz questão que o disco fosse uma montanha-russa”, diz Caio Weber, sorrindo, em entrevista ao Lindie. E assim é. Com um início positivo e em alta, o disco aponta fragilidades, inseguranças e medos do eu-lírico a cada faixa, que se somam às fases de um relacionamento, como uma história. No projeto, o vocalista da Cefa se mostra de um ponto mais íntimo ao público, com um autorretrato de si nas letras e um aceno ao seu passado, com orgulho, ainda que exista um ponto de críticas, ao que construiu.

Ao todo, são 10 músicas em Monollogo, primeiro álbum solo do artista, que será lançado na próxima sexta-feira, 10/09. Em meio às referências passadas, o nome do disco também entra contempla esse conceito: carrega a nomenclatura que, até o início deste ano, era usada por Caio para o projeto, iniciado em 2013. Idealizado para ser diferente do estilo da Cefa, com voz, violão e letras mais pessoais, as músicas exploram sonoridades distintas, como o folk e o indie pop.

Feito no home studio de Caio este ano, ainda na pandemia, o disco é, essencialmente, uma realização pessoal do artista, que conseguiu finalizar um dos itens da lista de coisas a fazer antes dos 30 anos. “É meio que um disco que eu fiz para mim, para as pessoas que eu amo e estão citadas ali”, teoriza ele. “Eu fiquei tão feliz por ter feito ele que todo o resto é meio que uma consequência”, completa.  

Assim, Monollogo representa a abertura dos sentimentos de Caio para o mundo. Mais do que isso: é o carinho de olhar para trás e juntar suas novas habilidades com os feitos já externados outrora. “Escrever é o que você quer falar para o mundo, mas, ao mesmo tempo, você não quer que o mundo te escute”, definiu ele ao falar sobre os medos de expor, inicialmente, suas emoções nas músicas. 

A remontagem de uma história já contada por Caio Weber

O que não se pode explicar é o início avassalador de um relacionamento, onde tudo faz sentido. Iniciada com uma percussão leve e a voz de Caio em destaque, a faixa muda de intensidade ao longo do seu primeiro refrão e alterna entre momentos mais altos e mais baixos. Quando se encaminha para o fim, o artista propõe um jogo de voz, com diferentes camadas se alternando entre a letra. “Foi tão rápido que até me esqueci, que eu tinha escolhido nunca mais sentir, para não colecionar nenhuma cicatriz. Você me olhou, me bagunçou, nem tive tempo de ter medo do amanhã”.

Sem um respiro, Voluta Serenitá, faixa single lançada em abril - e com uma demo disponibilizada em 2014 -, inicia. Aqui, o eu-lírico apresenta, ainda mais, suas inseguranças quanto ao relacionamento, buscando a ‘serenidade desejada’. “Eles dizem que nada é para sempre, me deixa ser nada com você”.  

O clipe feito para a canção em 2021 parece uma referência da produção da demo, em 2014, com Caio na praia, com o pé na água e tocando violão. Mais velho e com uma fotografia menos azul, o artista faz reverência ao passado e insere suas novas vontades, deixando-as ainda melhores.

Primavera, também já lançada há alguns anos, aparece em uma nova versão em Monollogo, com um início mais lento e a voz calma e o violão. Ao longo da faixa, a guitarra e a bateria vão aparecendo para ambientar melhor a canção em seus momentos mais intensos, mas, ainda assim, a maior ênfase da canção está na voz de Caio, além da parte lírica.

Perceptível para quem escuta os trabalhos antigos do músico, a evolução na forma de cantar de Caio chama atenção desde Caos, projeto mais visceral, e segue nos holofotes neste disco. Ao ouvir, mesmo que no escuro as faixas, é quase impossível não reconhecer o timbre do artista, que se liberta da forma mais pura possível.

Com uma quebra em relação a anterior, Na Saudade Não Há Paz é mais dançante, com batidas compassadas e um ritmo sonoro mais alegre. Liricamente reclamando da saudade, há, possivelmente, duas interpretações: a saudade do início de um namoro, que sempre parece gigante, mesmo após pouco tempo depois da despedida; ou a saudade em grandes períodos distantes, quando existe a necessidade de permanecer distante da outra pessoa. Ao final, lentamente os elementos diminuem o tom, deixando o baixo ter seu momento solo por alguns segundos.

Não Vá abaixa um pouco mais o ritmo e muda de status no relacionamento, chegando ao término sofrido. Com elementos melancólicos, expressos na voz de Caio, no teclado e na letra. “Não diga para sempre, sempre dizem isso antes de acabar. Não vá, não vá embora. O frio é triste sem você, insisto em sussurrar, não vá. Não vá agora”.

Em Tempestade, que traz a voz de Yago Jacques, cantor e compositor santista, integrante da banda Atlante, há o tom melancólico trazido em momentos da faixa anterior, mas em grande intensidade. Estilo típico usado para retratar essa parte dos relacionamentos, onde as pessoas se conformam com o fim, mas, ainda assim, estão machucadas, a faixa contempla, ainda, as reflexões do eu-lírico, juntamente com todas as suas inseguranças e medos. “Eu nem vi sua mensagem chegar porque eu escondo o celular quando percebo que o mundo se tornou demais para mim”. “Eu duvidei que esse mundo fosse me enlouquecer, fui me fechando pouco a pouco sem perceber”. Um dos grandes atos de Monollogo!

Mais Um Dia marca a busca de autoconhecimento, o encontro de “mim mesmo em mim”, como canta Caio. No entanto, há o entrave com o medo de deixar a pessoa para trás. Na mesma linha sonora de Primavera, há uma espécie de coro na voz do cantor em alguns momentos, que dão a sensação de profundidade ao ouvinte.

O tom melancólico retorna em Em Silêncio, que começa na voz e violão, com o eu-lírico refletindo sobre seus medos internos, em silêncio, ainda sem conseguir externar. “Foi quando eu descobri, que ainda tô aqui, por você, e por tantas coisas que eu só sei dizer em silêncio”. A faixa acaba com um quase choro, que completa o clima.

Depois Da Chuva, feat com o duo de indie folk O Rubro, carrega uma atmosfera obscura no início e, depois, traz de volta a parte solar do disco, encerrando a parte melancólica iniciada em Tempestade. Poeticamente, as faixas carregam no nome as finalidades de cada uma. As duas, inclusive, são composições novas, feitas em conjunto entre Caio e os músicos convidados. 

Após o clima mais baixo, o álbum retorna aos bons momentos em Sereno, que começa leve, como o acordar no domingo de manhã com a pessoa amada, e, depois de alguns versos, traz outros elementos para compor a melodia. Percussão, jogo de vozes em primeiro e segundo plano e a letra encerram Monollogo com um eu-lírico feliz depois de diversas reflexões ao longo das outras faixas. “Respirar você faz o meu peito floresce…..de novo”. 

Lembra da montanha-russa elaborada pelo artista? Depois de uma longa jornada entre o início de um relacionamento, seus percalços, término e aceitação, o eu-lírico termina em paz, com serenidade. Caio Weber consegue dar um presente ao seu passado - e presente - em Monollogo. O disco é íntimo, reflexivo e bonito, com a voz do artista estando, perfeitamente, entre os maiores destaques do álbum, com as flutuações e fragilidades escancaradas, sem técnicas que as mascaram. Ao conversar com o Caio, é perceptível o quanto o álbum é, essencialmente, ele.  

Destaques: Tempestade, Voluta Serenitá, Primavera, Não Vá, Depois da Chuva e Sereno.

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